Por Tatiana François Motta, economista
Quando eu era criança, tinha medo de bomba atômica. Eram tempos de Guerra Fria, e pelos fragmentos de notícias que ouvia, eu imaginava que um ataque nuclear era iminente. Estados Unidos e União Soviética poderiam iniciar a guerra a qualquer momento, e o mundo todo explodiria. Muitas vezes, antes de dormir, eu pensava em como escapar do fim do mundo.
Eu e outras crianças também tínhamos outros medos, algum mendigo que perambulava pelas ruas da cidade ou os temidos estranhos que supostamente ofereciam balas envenenadas na saída da escola. Mas nossos medos eram distantes, fantasiosos. Existiam na nossa imaginação, mas não no nosso quotidiano. A casa era segura. A rua e a escola também.
Hoje os medos são outros. Adultos e crianças temem uma violência onipresente. O perigo é a rua, o colega, o vizinho. Todos conhecemos alguém que foi assaltado ou foi vítima de alguma agressão. Nossos medos tornaram-se reais.
Um estudo divulgado nessa semana pela revista inglesa The Economist revela que o Brasil é o país com maior número absoluto de mortes por arma de fogo, excetuando situações de guerra, terrorismo ou ações policiais. Em 2016, foram 43.200 mortes no país, a maior parte homicídios. A pesquisa leva em conta dados de 195 países, coletados entre 1990 e 2016. Realizado por pesquisadores do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), da Universidade de Washington, o estudo é possivelmente o mais amplo sobre o tema.
Segundo os autores, os dados comprovam que a violência com armas de fogo representa uma das maiores ameaças à saúde da atualidade, e essa realidade necessita uma abordagem responsável e eficaz das autoridades competentes. Há consenso com relação à importância do investimento em educação e políticas de segurança, imprescindíveis para o combate a essa grave crise.
O medo da violência não pode nos paralisar, e tampouco nos levar a atitudes irracionais e impulsivas. Como sociedade, precisamos enfrentar o problema da violência com estratégias inteligentes e com a implantação de uma cultura de paz. Precisamos de mais cérebros e menos armas.