Carlos Zaslavsky, Médico, Mestre e Doutor em Gastroenterologia
Apesar de que o título lembre um assunto policial, a minha motivação está longe de ser pontual. Fiquei chocado com a notícia de que o fogo destruiu o Museu Nacional, o mais antigo centro de ciência do Brasil e o maior deste tipo da América Latina. Completou 200 anos, padecendo com cortes orçamentários e visível decadência.
O ministro da Cultura "lamenta o acidente" e culpa a administração do museu. Não falou dos cortes do orçamento, impossibilitando a manutenção do prédio. Esta tragédia cultural lembrou-me de outras catástrofes brasileiras. A epidemia de Toxoplasmose com quase dois mil casos, entre diagnosticados e suspeitos, na cidade de Santa Maria. O rompimento da barragem de Mariana, em Minas Gerais, considerado como o maior desastre ambiental da história do Brasil. A infecção pelo vírus ZiKa, causando 3000 casos de microcefalia confirmados, entre 2015 e início de 2018, e outros 3000 em acompanhamento.
A jornalista Cláudia Laitano, na ZH 03/09/ 2018, acertou em cheio com a expressão "monumento ao descaso" sobre ocorrido com o Museu Nacional. Peço a permissão da jornalista para estender a sua expressão. O incêndio do Museu Nacional é somente o monumento ao descaso administrativo emergente da realidade brasileira. O abandono dos municípios, os estados falidos, pela corrupção ou incompetência administrativa, não oferecem os serviços públicos essenciais. Se não são tragédias tão grandes, acabam sendo as suas origens.
Voltando aos incêndios brasileiros. Na boate Kiss, também em Santa Maria, 242 jovens universitários foram assassinados. O incêndio no Museu da Língua Portuguesa, o Memorial da América Latina, o Instituto Butantã e o Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro, só para destacar alguns. Assistindo pela televisão o prédio do Museu Nacional queimando, lembrei-me do imperador Nero, recordado como o governante que tocava a sua lira enquanto Roma ardia.
A morte de um país, assim como a Venezuela, decorre de um desastre administrativo, econômico e social. Fiz a associação do incêndio do museu com a política da tolerância zero, implantada nos Estados Unidos contra a criminalidade. Gostaria que tivéssemos tolerância zero com os malfeitores que administram o nosso país. Em conclusão, para o Brasil, é possível que a solução dos problemas vá mais além do que uma operação Lava-Jato.