Por Bianca Sordi Stock, psicóloga clínica e educacional, consultora e professora universitária
É consenso que a aprendizagem de competências socioemocionais é tão importante quanto a de competências cognitivas, como linguísticas e motoras. A prerrogativa está para a educação básica, assim como para o mundo corporativo, com as devidas adaptações. Simples seria se bastassem algumas atividades sobre os sentimentos, para que as crianças aprendessem a não agredir os colegas, ou então, um treinamento sobre métodos de comunicação, com a equipe da empresa, para que todos aprendessem a interagir de maneira assertiva.
Estudar sobre valores e princípios, bem como saber identificar as emoções, são ações válidas, porém, se não forem sustentadas por uma prática cotidiana daqueles que atuam como referências, como professores e gestores, não garantem o amadurecimento ou a mudança das pessoas. Fundamentalmente, as aprendizagens socioemocionais se constroem na vivência de vínculos enriquecedores para a subjetividade. Precisamos de pessoas que nos escutem com interesse, se posicionem frente a injustiças, se esforcem para compreender nossa singularidade e confiem em nossas capacidades, para que tenhamos parâmetros internos do impacto fortalecedor que essas experiências geram no psiquismo. Os modos como os outros nos tratam, tocam, escutam, falam, orientam, etc., produzem marcas subjetivas que criam os indicadores para o modo como vamos nos relacionar com os demais.
Nesse sentido, percebemos que a coerência entre as relações interpessoais no cotidiano das instituições com os objetivos anunciados em prol da aprendizagem das competências socioemocionais é uma condicionalidade para resultados efetivos. O investimento nessa área, essencialmente, precisa ser focado na qualificação da humanização da cultura institucional, a partir da formação daqueles que ocupam papéis referência.
Ser facilitador do desenvolvimento de pessoas, sejam elas crianças ou adultas, bem como de equipes, requer uma atitude de entrega, de estudo, de profundo autoconhecimento, de ampliação da visão de mundo e de abertura para se transformar. Em síntese, é dispor-se a escutar a si e aos outros. É permanentemente fazer a pergunta ética e estética, como propôs o filósofo Gilles Deleuze: "isso que estou dizendo, isso que estou fazendo, que modo de existência implica?" Dessa forma, poderemos ser, de fato, potencializadores de microrrevoluções que nenhum software, atividade ou treinamento podem ou poderão oferecer.