Por Talita Testoni, estudante de Letras
Quando eu era pequena, a biblioteca sempre foi meu esconderijo. Eu, literalmente, fugia dos meus coleguinhas que me chamavam de apelidos degradantes e achavam graça me darem socos no estômago.
Ao longo dos anos, desenvolvi um forte hábito de leitura. Creio que, desde então, comecei a associar a literatura com refúgio. Pensamento que me foi confirmado quando entrei em contato com o autor que viria a mudar minha vida.
No Ensino Médio, certas cicatrizes do passado vieram à tona e, quando vi, era uma menina de 15 anos com depressão. Não me sentia confortável em meu próprio corpo, sentia a lacuna da perda de meu irmão como um peso em meu peito e, constantemente, alegava que queria desaparecer.
Certo dia, em aula, lemos "Pneumotórax" de Manuel Bandeira. "A vida inteira que podia ter sido e que não foi." Essas palavras foram como um soco no estômago. Mas não daqueles que sofrera anteriormente, na escola, esse era diferente. Era, ao mesmo tempo, mágoa e contentamento. Ao mesmo tempo, tristeza e alegria.
Voltei para casa carregada de livros do Bandeira. "Como que um autor como ele poderia se considerar 'poeta menor'?", eu pensava indignada. Entendi, então, toda personalidade depressiva que nele existia. Por mais que fosse um escritor renomado, uma figura importantíssima, ele não se sentia suficiente. Não para os outros, mas para ele mesmo. Naquele momento, me enxerguei naquelas páginas e chorei.
Então, me deparei com "Vou-me embora pra Pasárgada". Todo o sentimento de escapismo que eu sentia, ao ler livros, resumido naquelas redondilhas: "Lá a existência é uma aventura".
E o que é a literatura senão uma grande aventura? Vivemos diversas vidas e histórias, assim tornando possível a fuga de nossa realidade. E, ao mesmo tempo, ao experienciarmos esse novo mundo que nos é apresentado, acabamos por refletir sobre a nossa própria realidade.
Foi isso que Manuel Bandeira fez em minha vida. A fuga do poeta é em direção à liberdade. Toda uma vida que poderia ter sido e que não foi por conta da doença. E decidi, nesse momento, que não deixaria minha vida ser definida por conta da minha doença. Decidi fazer da vida a minha Pasárgada.