Por Deoclécio Galimberti, advogado, professor, doutor em Direito
Será o tempo que modifica o homem, ou é o homem que se modifica através do tempo? Dúvida atroz que o chefe maragato Gaspar Martins dissipou ao sentenciar que "ideias não são metais que se fundem", dando o entendimento de que um homem com H maiúscula, por mais que sofra revezes, jamais se desvinculará de seus ideais.
Infelizmente, estamos vivenciando um dos momentos mais deprimentes de nossa pátria, com a mídia nos contemplando com notícias que nos leva a crer que política e ética estão divorciadas. Com raríssimas exceções, não há mais políticos que adotam o diapasão da moral e da ética. Como estão fazendo falta homens da envergadura de um Solano Borges, Oscar Machado, Daniel Krieger, Daniel Faraco. Pedro Símon, Edmar Fetter, Victor José Faccioni, Guido Mondin. Chegamos a um patamar que clama por urgentes mudanças, sob pena de aumentarmos o número de maus políticos, que agem sob o signo da corrupção, sem a mínima preocupação com a ética nas atribuições que o povo lhes confia.
Felizmente nem sempre foi assim. Na década de 50, o deputado Barreto Pinto teve seu mandato cassado pelo simples fato de se deixar fotografar de fraque e cuecas. No Palácio do Catete, lá está o pijama que vestia Getúlio Vargas quando se suicidou ante a simples suspeição de que um elemento de sua guarda pessoal tivesse participado do assassinato do major Vaz. Há poucos anos, o presidente do Senado e outro senador solicitaram o afastamento da Câmara Alta pelo fato de tomarem conhecimento dos sufrágios de seus pares antes da proclamação do resultado da votação.
Nicolau Maquiavel, doutrinador renascentista, tem alguma culpa no quadro político atual, pois sustentava que "os meios justificam os fins", desvinculando a política da ética, de vez que o político assim procedendo perde a conotação do que seja moral para o desempenho de suas funções e em consequência anula qualquer pressão de ordem moral em sua consciência.
Os princípios que devem nortear os políticos são a verdade, a transparência pública, o respeito aos direitos do cidadão, o uso justo e honrado do dinheiro público, a recusa de meios ilícitos para conquistar o Poder. São esses os princípios que encontram sua raiz no valor transcendente da pessoa e nas exigências morais e objetivas do Estado.
Destarte, o combate à corrupção é um grito de ordem moral que todos nós, eleitores, devemos bradar no próximo pleito, não votando em indivíduos moralmente poluídos, que não estejam capacitados para administrar os interesses públicos e sua atuação certamente só assim não terá reflexo negativo, cujo saldo será a manutenção dos mecanismos de miséria e marginalização de nosso País.