Por Luiz Coronel, escritor e publicitário
"O artista é um egoísta cheio de piedade", dizia Monica Vitti para Marcello Mastroianni em A Noite, filme de Antonioni. Talvez por se tratar da Revolução Farroupilha, alguns artistas e jornalistas tenham resolvido, em má hora, afiar espadas e erguer lanças contra o projeto da Câmara de Vereadores de estender apoio à encenação de uma ópera-rock sobre o vibrante tema da Guerra dos Farrapos.
Como ponto de partida, tratava-se de um recurso não utilizado pela douta Câmara de Vereadores, que deveria retornar ao Executivo Municipal, deixando assim de ter uma contribuição cultural. O desconhecimento desta premissa deixa sem munição os contestantes ao projeto. Talvez por fatos similares tenha nascido a expressão "coisa de cabo da esquadra".
Alguns repórteres foram ao encontro de artistas já em busca de vibrantes libelos contra este desperdício de verbas, que poderia ter recebido melhor destinação. Aqui, me volto a Vianna Moog, o autor gaúcho: "Na vida, sempre que optamos por uma alternativa levamos o peso das alternativas abandonadas". E Nelson Rodrigues, quando lhe perguntaram o que era mais importante, um teatro ou um hospital. Nelson, emergindo de seu robusto alarme verbal respondeu: "Um teatro e um hospital".
Em defesa de meu texto A Revolução Farroupilha, em nove edições sucessivas, com primorosa arte de Danúbio Gonçalves, devo dizer que se trata da única obra sobre o tema em forma de poema, à moda Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, como apontou o professor Sergius, ou Auto do Frade, de João Cabral de Mello Neto. E devo concluir batendo o martelo: "Se chegarmos ao Acampamento Farroupilha, nos festejos desta data máxima da identidade gaúcha, perceberemos um triunfante predomínio da emoção sobre o conhecimento histórico dos fatos e das razões que nutrem esta insurreição que nos fez Estado independente em 1836".
Numa linguagem contemporânea, didática e encantatória, a ópera-rock merece aplauso de pé, mesmo antes de levada ao palco. Um cálice de razão, de bom senso, antes do espetáculo cairia bem a estes contestadores vazios.