A dificuldade, cada vez mais visível, de o país enfrentar questões que dependem sobretudo do debate de ideias em relação às quais falta consenso suscita uma reflexão ainda mais relevante num ano eleitoral. Discussões na base do grito, comuns nas redes sociais, ampliam-se perigosamente também para o âmbito das instituições. É o que se constata agora tanto na Câmara dos Deputados, em Brasília, no encaminhamento do tema Escola Sem Partido, quanto na Câmara Municipal de Porto Alegre, com a discussão sobre projetos relacionados ao funcionalismo. Debate pressupõe respeito a posições contrárias. Parlamentos não são locais para protestos ruidosos, mas para diálogo respeitoso.
De alguma forma, essa indisposição crescente para o diálogo tem explicações em fatos como o de o país ter hoje um Executivo fraco e sem credibilidade em âmbito nacional e um Congresso que legisla contra os contribuintes, ao ignorar a crise financeira do setor público. Até o mesmo o Judiciário, ao qual caberia um papel de mediador nesse quadro difícil, se vê hoje diante de uma hiperexposição pública de conflitos de competência.
Se as instituições não conseguem passar a ideia de estarem cumprindo com o seu papel constitucional, acabam contribuindo para maior frustração ainda entre os cidadãos. O sentimento é inevitável, pelo fato de os brasileiros se verem cada vez mais acuados por exigências como uma carga crescente de tributos, sem uma equivalência na prestação de serviços essenciais como segurança, assistência adequada na área de saúde e ensino com um mínimo de qualidade. Quando o poder público falha, quem perde é o cidadão, que muitas vezes tem seus direitos constitucionais ainda mais tolhidos.
Às vésperas de uma eleição com potencial para mudar esse quadro, mas que pode também servir para consolidá-lo, todas essas questões preocupam e precisam ser devidamente debatidas antes de se tornarem incontornáveis. O país precisa estabelecer a ordem, facilitando as condições para uma discussão educada, o que se constitui em pré-requisito para um ambiente democrático. Entre os pressupostos para isso, está o fortalecimento das instituições e a consciência, por parte de representantes de corporações, líderes políticos e gestores públicos, de que os interesses do bem comum precisam se sobrepor sempre aos individuais.