A greve dos caminhoneiros ficou para trás, mas deixou um rastro de efeitos negativos que seguem interferindo no desempenho da atividade econômica e no cotidiano dos brasileiros. As consequências mais visíveis são a maior taxa de inflação no mês de junho em mais de duas décadas, queda abrupta e acentuada da atividade econômica, perda de confiança por parte dos agentes econômicos, disparada do câmbio e manutenção de elevados níveis de desemprego. Fica cada vez mais evidente que o poder público não soube administrar com um mínimo de eficiência o movimento reivindicatório de uma categoria que, ao final de 11 dias de bloqueios em rodovias, levou ao desabastecimento generalizado, incluindo alimentos, remédios e combustíveis.
A sequência de equívocos começou pelo despreparo do governo para evitar o conflito e chegou ao absurdo imposto pela circunstância bizarra de se ver um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) coordenando a negociação de uma tabela de fretes. A constatação de que muitos Estados vêm ganhando mais ao compensar a menor taxação sobre o diesel com a gasolina é apenas uma das muitas distorções geradas pela paralisação. Levantamento de âmbito nacional publicado pela Folha de S. Paulo aponta o Rio Grande do Sul como o Estado que registrou, a partir do início de julho, o segundo maior aumento no preço de referência da gasolina, usado para taxação com Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Os danos legados pela greve vão além, incluindo evidências de um ilegal locaute para forçar a obtenção de benefícios setoriais. A força demonstrada pelos manifestantes, em contraste com a debilidade dos que deveriam atuar como negociadores por parte do governo, acabou trazendo de volta práticas contrárias aos interesses do país. É o caso de alternativas como benefícios fiscais, além de tabelamento e controle de preços. Todas elas já deveriam fazer parte do passado há muito tempo, devido aos seus efeitos comprovadamente danosos.
Em outras circunstâncias, desde que bem administrada, qualquer paralisação teria efeitos menos sérios e mais passageiros. A tibieza do governo e as incertezas eleitorais, porém, potencializaram as consequências negativas. O país precisa retomar logo as condições de impedir que uma greve como a dos caminhoneiros possa desorganizar todo o setor produtivo, prejudicando a imensa maioria da população.