O mundo ainda precisa de tempo para verificar na prática se o acordo assinado entre o presidente norte-americano Donald Trump e o líder norte-coreano Kim Jong-un, prevendo a desnuclearização da península coreana, irá além de um lance de relações públicas de cada lado. O fato incontestável é que, desde a declaração conjunta assinada por representantes de dois países historicamente adversários, a ameaça nuclear ficou um pouco mais distante.
Um aspecto positivo da aproximação inédita entre os dois países é que, por um lado, a Coreia do Norte assume o compromisso de uma "completa desnuclearização da península coreana". Os Estados Unidos, em contrapartida, garantem segurança ao regime norte-coreano. A cúpula realizada agora ganha ainda mais relevância por ter sido antecedida, em abril, pelo encontro até então impensável entre os líderes das duas Coreias, que se deram as mãos na fronteira entre os dois países para demonstrar confiança mútua depois de quase 70 anos de conflito.
Ao consentir com o encontro em Singapura, o presidente norte-americano fez uma concessão importante a um regime ditatorial que oprime e retira direitos da população. Com esse gesto, porém, distensiona uma parcela importante da comunidade internacional mantida hoje sob suspense diante de um arsenal em relação ao qual há poucas informações disponíveis. Apenas em 2017, foram registrados pelo menos dez lançamentos de mísseis, além de um teste nuclear bem-sucedido, com potencial para atemorizar uma parcela expressiva da população global.
Um aspecto a lamentar é que essa mesma disposição de diálogo do presidente da maior potência global com um adversário, em busca de uma saída comum, não se manifeste também com tradicionais aliados dos Estados Unidos nas discussões comerciais. Às vésperas do encontro histórico, o presidente norte-americano se recusou a endossar os resultados dois dias de discussões entre integrantes do G7. Nessa, área, a Casa Branca ainda demonstra pouca disposição de transigir, o que lança incertezas sobre o futuro imediato das relações multilaterais.
Por isso, é preciso que esse passo inicial avance, transpondo para gestos concretos o "desejo de paz e prosperidade por parte dos povos dos dois países", manifestado no documento assinado entre Estados Unidos e Coreia do Norte. E, ao mesmo tempo, que inspire maior diálogo também entre tradicionais parceiros, facilitando as tão esperadas conquistas em âmbito comercial.