Por Marco Aurélio Bezerra, Diretor de Criação Executivo
Já faz algum tempo que trabalho com criatividade. E por afinidade, acabei dedicando a maior parte dessa vivência com marcas esportivas e patrocínio de atletas de alto nível. Em 2012 a DM9Sul, agência que ajudei a construir, ganhou um Webby Awards, o maior prêmio da internet mundial. Me lembro que, durante a entrevista com os vencedores, me perguntaram o que caracterizava a criação com tecnologia no Brasil.
A pergunta mexeu comigo. Mas a resposta saiu fácil, porque ela é a essência do que caracteriza a criatividade do brasileiro. Não apenas em tecnologia, mas no esporte, na gastronomia e no futebol. A gente não cria muita coisa nova. Nós somos especialistas em pegar algo que já existe e transformar em algo mágico.
Pensa bem, ainda no esporte, mas não no futebol. O Brazilian Jiu Jitsu, nada mais é do que uma evolução revolucionária de uma arte japonesa, adaptada e transformada pela família Gracie. A criatividade brasileira vem da transformação. Nós não vamos inventar o novo Google, mas seremos pioneiros em usar as ferramentas dele para criarmos novas funcionalidades tecnológicas. Usar reconhecimento facial para identificar políticos corruptos e baixar a fixa deles, por exemplo. A ferramenta é velha, mas a ideia é nova e venceu o GP de Mobile no Cannes Lions desse ano. Vale conferir.
No futebol é a mesma coisa. Quem criou o esporte foram os ingleses, mas quem o transformou em espetáculo foi o brasileiro. Seja nas pernas tortas do Garrincha ou na efetividade genial do Pelé. Somos transformadores. Tudo fica mais bonito, mais gostoso e mais criativo quando usamos esse talento. É aí que brilhamos.
Esse ano, na Copa, muito se fala de esquemas com três atacantes, de goleiros líberos, ou do falso 9. Evoluções táticas que até adotamos na nossa Seleção. Mas será que apenas implementar isso no nosso time vai trazer brilho? Olhando para o passado, tenho a sensação que a resposta é não. A criatividade brasileira não é boa quando segue o que vem de fora. Chegou a hora de pegarmos tudo isso, misturar no nosso liquidificador cultural e servir com a magia da nossa criatividade. Vai acontecer. Só espero que seja ainda nessa Copa.