Na década de 1980, campanha publicitária popularizou o chamado “efeito Orloff”, cujo slogan, “eu sou você amanhã”, muito foi usado para ilustrar a semelhança entre as economias do Brasil e da Argentina: os planos para enfrentar a inflação galopante de um país antecipavam os que o outro logo adotaria. Lembrando as semelhanças, ambos entraram na chamada globalização como espaços para a valorização financeira internacional e se desindustrializaram aceleradamente. No século 20, com o ingresso da China no cenário, expandiram a exportação de commodities. Tal boom fortaleceu os governos de centro-esquerda de ambos (Lula aqui, os Kirchner lá – guardando o rótulo de esquerda sem centro para a Venezuela). Esses ampliaram políticas sociais sem, todavia, alterarem a estrutura tributária regressiva. O fim desse período de vacas gordas contribuiu para que fossem substituídos, por via eleitoral ou não, por governos de matiz liberal e dispostos a implantar as reformas esperadas pelo mundo das finanças.
Todavia, as diferenças são também significativas e, por incrível que possa, o Brasil parece levar a melhor. Em tal período áureo das commodities, ele acumulou reservas em dólares, o que não ocorreu na Argentina, que também manteve inflação fora de controle e enfrentou várias denúncias de manipular índices. Verbalmente defendia o Mercosul, mas criava obstáculos para as importações do bloco, principalmente do Brasil, quando facilitava para outros, como EUA e União Europeia. Macri foi eleito com programa de acelerar as reformas, o que lhe confere mais legitimidade do que Temer. Enquanto ele internacionalmente é evitado mesmo pelos pares (e aqui até nos incêndios), Macri é elogiado e, até agora, tido como exemplo nos fóruns defensores do livre mercado. Mas, na Argentina, apesar do déficit, já não há mais o que privatizar. O fracasso no combate à inflação e ao desequilíbrio das contas, a ponto de recorrer ao FMI, é mais do que simbólico, e sinaliza para a dificuldade de ajustes ortodoxos numa era em que o próprio mundo é tomado por onda de nacionalismo. E, para completar, o Brasil ainda tem a eleição pela frente, o que dá certa esperança, mas na Argentina essa já ocorreu e ora vemos o resultado. Será que o “efeito Orloff” ainda faz sentido?