A denúncia de que 11 de 15 veículos comprados em 2012 pela Trensurb por R$ 244 milhões não têm quaisquer condições de atender com segurança os usuários por apresentarem dezenas de falhas, muitas delas graves, é reveladora da falta de cuidado que costuma cercar licitações no setor público. Situações desse tipo provocam indignação pela facilidade com que um somatório de desacertos dessas dimensões se mantém, apesar do rigor legal e do papel preventivo que deveria estar sendo exercido por organismos de fiscalização. Os prejuízos acabam recaindo sobre o setor público, bancado pelos contribuintes, e sobre usuários, que pagam uma tarifa elevada para usufruir de serviços de qualidade inferior à esperada.
No caso dos trens sem condições de transportar passageiros, a alternativa escolhida revelou-se um equívoco total. E o problema ocorreu não só por eventual incompetência dos servidores responsáveis. Além de suspeitas de formação de cartel, com fortes indícios de acerto de preço, ingerências políticas com fins eleitoreiros teriam levado até a superfaturamento, como adverte reportagem do Grupo de Investigação da RBS (GDI). Por isso, ganha força o papel do Ministério Público Federal (MPF), para que as investigações possam confirmar as razões dessa compra equivocada e levar ao ressarcimento dos prejuízos por parte dos fabricantes e de autoridades públicas.
É preciso, sobretudo, que a desastrada licitação na Trensurb sirva como alerta para tudo o que não pode ser feito quando estão em jogo volumes consideráveis de dinheiro público. Os usuários, que poderiam estar aproveitando hoje trens mais confortáveis e seguros com o que pagam de tarifa, sem as constantes interrupções por panes, não devem ser desconsiderados dessa forma, em consequência de desmandos que impõem um custo excessivo para toda a população. A Trensurb, por sua vez, além de oferecer serviços melhores, poderia estar economizando energia caso as novas composições estivessem em condições de circular, e gastando menos em manutenção e peças.
A falta de observância de padrões mínimos em licitações registrada agora não é um caso isolado. Essa é uma razão considerável para que o fato sirva de alerta para a necessidade de vigilância permanente no uso de dinheiro público.