As eleições na Venezuela são mais um passo rumo ao isolamento de um regime crescentemente ditatorial. Como era previsível, o pleito foi marcado por níveis inéditos de abstenção, por oposicionistas impedidos de concorrer, por uma Justiça sob controle de Nicolás Maduro e por denúncias generalizadas de fraudes. O chavismo só se mantém, agravando a situação de um Estado falido e o já elevado nível de sofrimento da população, justamente devido à perversa combinação de destruição das instituições democráticas com um discurso de inimigos invisíveis internos e externos.
Diante de um pleito denunciado pelos 14 países integrantes do chamado Grupo de Lima, incluindo o Brasil, “por não estar em conformidade com os padrões internacionais de um processo democrático, livre, justo e transparente”, é compreensível que o resultado não esteja sendo reconhecido nem interna, nem externamente. A posição do Itamaraty também precisa ser vista como razoável. Não romper relações é manter um mínimo de coexistência com um vizinho relevante e problemático, que vem dando margem a uma crise humanitária de proporções inéditas nas últimas décadas na América do Sul.
É lamentável o posicionamento de parcela da esquerda brasileira, que não só evita condenar os desmandos do chavismo como demonstra vez por outra sua admiração aos bolivarianos, conhecidos pelo pouco apreço até mesmo à chamada “cláusula democrática”. Mais preocupante do que a simpatia de alguns segmentos no Brasil pelo chavismo é a defesa de políticas econômicas que levaram a esse estado apocalíptico no país sul-americano: intervenção desmedida do Estado, aparelhamento da máquina pública e controle de preços.
O somatório de equívocos levou a uma inflação em descontrole, na iminência de beirar 14 mil por cento ao ano. O percentual ajuda a explicar por que nem mesmo o fato de a Venezuela deter as maiores reservas de petróleo do planeta vem contribuindo para livrar a população de um cotidiano adverso. Miséria, fome e doenças generalizadas têm provocado fuga em massa para países vizinhos, incluindo o Brasil.
É incompreensível que algumas pessoas ainda se deixem enganar pelo bolivarianismo. O faz de conta eleitoral vai aprofundar ainda mais o isolamento financeiro e diplomático do país sul-americano e o drama dos venezuelanos.