A taxa básica de juros (Selic), definida pelo Banco Central, está em 6,5% ao ano, seu menor nível histórico, o que levou o Brasil a perder a condição de país com o percentual mais elevado do mundo. Ainda assim, o custo do dinheiro para o consumidor final – tanto pessoas físicas quanto jurídicas – continua nas alturas. Às voltas com uma retomada econômica que não empolga, o país precisa criar agora as condições para reduzir o percentual a níveis mais compatíveis com o cenário de estabilidade. Há razões de sobra para o exagero na diferença entre a Selic e as taxas efetivamente cobradas, mas elas precisam ser enfrentadas.
Em boa parte, essa discrepância se deve ao fato de o mercado brasileiro figurar como o que ostenta o mais elevado spread – a diferença entre o custo de captação e o que os bancos cobram do tomador final. A explicação para esse excesso está em particularidades que vão desde carga tributária até a elevada inadimplência e a excessiva concentração bancária, que impede maior competitividade entre as instituições financeiras. No ano passado, os cinco maiores bancos do país respondiam por nada menos de 82,2% dos ativos totais. Esse percentual só se amplia desde o início do Plano Real, em meados dos anos 1990, quando muitas instituições financeiras quebraram ou passaram a ser incorporadas por outras, pelo fato de não terem se adequado à queda brusca da inflação.
O elevado custo do dinheiro para pessoas físicas e jurídicas ajuda a explicar por que a economia brasileira deslancha de forma tão tímida, e precisa ser enfrentado nas causas. Com os entraves dos juros elevados nos empréstimos, as empresas investem menos, o consumidor adia compras e o desemprego se mantém em níveis recordes. O país não pode se conformar com essa situação. É mais do que hora de a taxa de juros retomar alguma coerência com o índice inflacionário.
Certamente, há outras razões contribuindo para que a economia brasileira tenha dificuldade para se expandir nos níveis e no ritmo desejados. Entre essas causas, estão as incertezas políticas, que limitam os investimentos privados, e o impacto da crise fiscal sobre a liberação de verbas por parte do setor público. Nenhuma economia, porém, pode se expandir com taxas médias anuais dos empréstimos nos bancos para pessoas físicas de 33% – percentual que pode alcançar 324% no caso do cheque especial.