Por Renata Brasil Araujo, psicóloga do Hospital Psiquiátrico São Pedro
É surpreendente o fato de que, no Brasil, que apresenta uma alta taxa de suicídios por ano, ainda se considere que falar em transtornos psiquiátricos é debater sobre um tema polêmico, que necessite de campanhas de sensibilização para que as pessoas concordem, ao menos, em fazer uma reflexão a este respeito. Isso faz lembrar de Voldemort, o vilão da saga Harry Potter, de quem ninguém podia falar o nome... Os diagnósticos psiquiátricos, infelizmente, são tratados como já foram, há décadas atrás, a aids e o câncer: como "aquelas doenças", doenças que não podem ser nomeadas; como aquilo que não pode ser dito. Alguns profissionais defendem a posição de que o paciente não deve conhecer o seu diagnóstico para que não seja "rotulado" ou "reduzido a este rótulo", o que, sem dúvida alguma, é um enorme equívoco. Será que alguém que souber que tem diabetes se transformará em apenas um diabético? Como reagiríamos se um médico clínico geral solicitasse exames, prescrevesse remédios e não explicasse exatamente o que temos, e o motivo de escolher tal tratamento?
Por que então, na área de saúde mental, não encaramos os transtornos da mesma forma, dando ao paciente o direito de conhecer seu diagnóstico e de participar ativamente de seu tratamento? Parece existir um preconceito por parte de alguns profissionais, que acham mais digno ter uma cardiopatia do que uma depressão, e creem que não devem perguntar ao paciente a respeito de ideação suicida para "não dar ideia", como se algo tão grave – como a vontade de morrer – pudesse ser forjada de fora para dentro.
Espero que, um dia, possamos falar de esquizofrenia com a mesma aceitação com a qual falamos de pneumonia. Nesse dia, buscar tratamento psiquiátrico não será um pecado grave... E nesse dia, somente nesse dia, conseguiremos defender, com convicção, o direito à vida dessas pessoas que não sabem que seu sofrimento tem nome e tratamento. Estaremos, ao dizer a verdade, finalmente, devolvendo-lhes a cidadania e a esperança de serem mais felizes.