Exatos 3.330 anos atrás, o monumental Êxodo do Egito ocorreu, transformando uma família de escravos em um povo em busca de liberdade. Apesar de estarem fora das garras dos seus opressores, logo na saída os judeus se deram conta de que obstáculos e impedimentos se encontravam por todo lado, camuflados no contexto local. A fim de viabilizar a caminhada de aproximadamente 3 milhões de adultos e crianças com gado e pertences pelo deserto hostil, Deus lhes enviava alimento do céu diariamente, conhecido como maná, fez surgir água de uma rocha que os acompanhava na jornada e até os envolvia com sete nuvens protetoras, minimizando sua exposição aos elementos e aos agressores. A Terra Prometida era situada em território vizinho e de acesso relativamente fácil.
No entanto, a Bíblia judaica, a Torá, relata a viagem que durou 40 anos até chegar a essa terra prometida e ainda especifica as 42 jornadas pelas quais passaram no caminho.
Se a Torá fosse um livro de História, faltam dados. Se fosse uma homenagem, os trágicos desfeitos humanos obscurecem a glória. Se fosse uma peça sentimental, o contexto contemporâneo desconhece tais referenciais. O que, então, é o relato bíblico da Páscoa judaica e por que é comemorada amplamente na atualidade?
Aquilo que nos cerca e com o que interagimos chamamos de físico. Tudo mais é espiritual
A palavra Páscoa advém do nome em hebraico Pessach, que significa passagem. Etimologicamente, remete à passagem da escravatura à liberdade e do anjo pelas casas dos judeus no Egito antigo. Latente nos relatos da Bíblia, pulsa uma existência tão real quanto a descrita nos versículos, repleta de movimentos, causa e efeito, vontade e deleite, amor, bem-estar e afins. Real mas imperceptível ao leigo, magnífico mas imprevisível, essencial mas fora do nossa alcance. Seria possível criar uma ponte entre o além e o aqui?
Aquilo que nos cerca e com o que interagimos chamamos de físico. Tudo mais é espiritual. É nessa passagem no cotidiano entre o visto e não visto, o dito e não dito, o aceitável e o incompreensível que reside o verdadeiro Pessach. De saber quando passar e quando ficar, por onde passar e onde evitar, com quem, como e por qual motivo.
Reunimo-nos com família e amigos na volta da mesa em Pessach para uma imersão na labuta dos nossos antepassados ao comermos raiz-forte, sentimos suas lágrimas ao degustar a água salgada, celebramos a euforia da liberdade tomando quatro copos de vinho e reconhecemos o valor da humildade e da submissão ao nosso Criador comendo o pão ázimo chamado matsá.
Cada um dos 15 passos do jantar serve como link para que possamos trazer o Céu para a terra. Por isso é chamado Seder de Pessach, pois significa ordem. Deus criou o mundo com propósito e deu para cada pessoa o privilégio de revelar a verdade da existência muitas vezes disfarçada. Estamos vivendo uma época em que esse processo tomou uma certa urgência, um ímpeto próprio que só aumenta na sua intensidade.
É um mundo se transformando em uma Terra Prometida para toda a humanidade. Trazendo o Céu para a terra e convidando Deus de volta para Sua casa.
Feliz Pessach!