A festa da Páscoa é anterior ao surgimento do cristianismo. Há vestígios de uma antiga festa egípcia de começo de primavera, quando os rebanhos saíam dos estábulos para as primeiras pastagens verdes sob a bênção nas portas marcadas com sangue de um cordeiro. A genialidade do povo hebreu foi o salto da natureza para a História: a Páscoa judaica não é uma festa de natureza, mas memória de um acontecimento histórico, embora ela _ e a Páscoa cristã em seguimento _ seja celebrada com a primeira lua cheia de primavera (no Hemisfério Sul, primeira lua cheia de outono). Para os cristãos, a memória histórica da libertação dos hebreus não pode ser nem abolida, nem esquecida.
Aliás, a primeira geração de cristãos era constituída por judeus que continuaram praticando o judaísmo, mas reconheciam a novidade de Jesus como o Messias, ainda que, como escreve Paulo, isso seja "escândalo e loucura", pois se trata de um profeta crucificado. A narrativa pode ter um sabor mítico, mas há, como, no caso da Páscoa judaica, um fato histórico fundante: numa festa de Páscoa, Jesus foi morto pelas autoridades de Jerusalém e de Roma. As crucificações eram costumeiras no Império Romano, e um profeta inocente e compassivo foi crucificado com bandidos. Os que o tinham seguido desde a Galileia, depois de o terem abandonado, reconheceram nele o novo "Cordeiro pascal". E mais ainda: é o "Cordeiro Redivivo", que Deus ergueu para uma nova Páscoa, universal, plena e definitiva: a possibilidade de toda criatura passar da injustiça ao reconhecimento, do sofrimento à paz, e finalmente da morte à vida.
Vigília pascal é a "mãe de todas as vigílias"
Por isso, a Páscoa tornou-se a festa central do calendário cristão desde o primeiro momento. O Natal, que ganhou importância no Ocidente latino, é uma reinterpretação cristã de uma festa pagã de nascimento do Sol no coração do inverno europeu. A partir do século IV, os cristãos interpretaram o Sol nascente como a chegada humilde do Filho de Deus. O Natal volta a ser pagão, uma festa nostálgica de origens, quando perde seu eixo central _ a Páscoa. A vigília pascal, na noite do Sábado de Aleluia para a manhã do domingo, é a "mãe de todas as vigílias", segundo Santo Agostinho. As grandes festas, como Pentecostes e Natal, dependem dela. Por muitas gerações, os cristãos cantavam em assembleia, em torno a um grande círio simbolizando a luz do Messias, durante a noite inteira, até o sol da manhã de Páscoa surgir.
Hoje, a celebração tem quatro partes: a bênção da luz, que começa com o fogo da nova criação, a entrada da luz na escuridão e o canto de exultação; a escuta da palavra da Bíblia, que repassa os momentos mais importantes da criação, da promessa a Abraão e depois a Israel no exílio, do êxodo, e, finalmente, da ressurreição de Cristo; a bênção da água e a renovação do batismo. Por fim, a eucaristia com a refeição pascal de pão e vinho consagrados como o "Cordeiro de Deus" redivivo que tira o pecado do mundo.