O ministro Raul Jungmann, da Segurança Pública, está coberto de razão quando afirma: "Me impressiona no Rio de Janeiro, onde vejo as pessoas durante o dia clamarem pela segurança, contra o crime. E estão corretas. À noite financiarem esse crime pelo consumo de drogas. Não é possível! São pontas que muitas vezes se ligam e precisam de estratégias diversas para serem devidamente combatidas".
Às vésperas da II Guerra Mundial, Franklin Delano Roosevelt, presidente norte-americano na época, pressionou o então presidente brasileiro, Getúlio Dornelles Vargas, a proibir a venda dos cigarrillos de marijuana em nosso país, que eram livremente comercializados. Sendo a marca Guarany a mais vendida. Além dessa proibição, Roosevelt também incluiu a restrição ao livre comércio da morfina no território nacional. Com isso, o governo brasileiro criou várias restrições a esse comércio, os resultados disso repercutem até hoje. Por exemplo, o Brasil é o país, hoje, que tem a menor comercialização de morfina na região. O Uruguai, que é o menor país do continente, tem um comércio de morfina maior do que o nosso. Com isso, criou-se uma conscientização ao uso discriminado dessa droga, tornou-se uma droga altamente restrita.
Estamos diante do risco de termos walking deads, verdadeiros zumbis inumanos!
RICARDO NOGUEIRA
Médido psiquiatra
Quanto às drogas ilícitas, descrevi neste jornal, em 26 de junho de 2017, o panorama sobre o uso e abuso de drogas ilícitas no Brasil – cocaína, crack, opioides – que vem se agravando. O registro dessas substâncias saltou de 0,8% para 7,3% na última década, segundo dados do IBGE. Entre adolescentes do sexo feminino de 13 a 17 anos, o índice de usuários foi de 6,9% para 9,2% nesse período.
Não podemos continuar batendo exclusivamente na tecla de prevenção às drogas sem identificar e tratar de forma adequada as doenças mentais. Na puberdade, a procura pelas drogas ocorre justamente porque os jovens não suportam a depressão, para mascarar os sintomas buscam um tranquilizante. O mais comum deles é a Cannabis, que num primeiro momento age como sedativo no sistema nervoso central e num longo período vai sedando e deprimindo e muitas vezes desencadeando processos esquizofreniformes. Quando os usuários percebem que a maconha já não faz efeito, substituem-na pela cocaína, que provoca euforia momentânea e, com seu uso prolongado, provoca a depressão.
Quando a cocaína agrava o problema, o que acontece? Muitos desses jovens têm aumentados os seus problemas mentais ou se suicidam, por isso percebemos a piora do quadro no Brasil, com perfil de idade mais tenra e mais precoce. Precisamos focar nossa atenção nesses problemas, que serão um problema cada vez mais grave.
Contudo, do que temos que ter clareza é que as drogas são um problema de saúde coletiva que atinge cada vez mais pessoas, que não têm a percepção dessa doença. Estão contaminadas e com isso tentando contaminar mais seguidores. Estamos diante do risco de termos walking deads, verdadeiros zumbis inumanos!