As transformações tecnológicas nos últimos cinco anos foram mais aceleradas, intensas e diversificadas do que aquelas ocorridas nos últimos 500. São incontestáveis os progressos técnicos na produção industrial, os avanços na área da medicina, dos transportes e das comunicações. Tudo está sendo feito mais em menor tempo, com menos custos e, sobretudo, em maior quantidade barateando o preço final. As vantagens são múltiplas: mercadorias acessíveis, de melhor qualidade, circulando no mercado internacional quase sem fronteiras. Porém, existe uma contrapartida imediata: na esfera da produção, o produtivismo predador impactado de maneira irreversível os recursos naturais; na esfera do consumo, o consumismo inconsequente e sem limites, "não pensem, gastem".
"A grande mídia monopolista estará lá para assegurar que vivemos no melhor dos mundos"
ANTONIO DAVID CATTANI
Professor de Sociologia da UFRGS
Esses e outros problemas poderiam ser solucionados com facilidade. A questão está nas estruturas e na lógica que impulsionam as transformações sociotécnicas. Livre mercado e livre concorrência são ficções. Procedimentos técnicos inovadores, novos produtos e facilidades são rapidamente acaparados pelas grandes empresas graças aos seus braços financeiros. Amazon, Microsoft, Glencore, Goldman Sachs, Sumitono e mais algumas dezenas de conglomerados controlam mais de 60% da riqueza substantiva, aquela que garante o exercício efetivo do poder econômico e político. Seus interesses prevalecem sobre nações, seus prepostos destroem a Petrobras, subjugam a Embraer, liquidam a indústria naval e qualquer outro setor de interesse nacional. Desnecessário falar das pequenas e médias empresas relegadas a um papel subordinado e insignificante.
Estudos prospectivos atestam os impactos desse modelo no mundo do trabalho. Nos próximos anos as tendências atuais deixarão bem nítidos três segmentos: empregos estáveis, qualificados e bem remunerados para um número ínfimo de profissionais; uma massa de empreendedores dinâmicos que darão o sangue e a vida para sobreviver na esfera empresarial cada vez mais seletiva e milhões de trabalhadores relegados à precarização e aos subempregos. A grande mídia monopolista estará lá para assegurar que vivemos no melhor dos mundos: na sociedade da falsa meritocracia os ricos merecem a riqueza e os pobres a miséria.