Você já deve ter lido inúmeras previsões sobre o futuro do mundo do trabalho. Muitas delas são catastróficas, outras indicam caminhos profissionais. Mas é fato: boa parte das atividades que fazem girar e economia e dão sustento às famílias está passando por mudanças radicas – de motoristas a advogados, de professores a jornalistas, de escritores a engenheiros e médicos.
Em Canoas, Genildo Bello, técnico em mecatrônica e elétrica automotiva, é um exemplo da transição que os profissionais vão precisar passar para garantir a empregabilidade em um mundo com cada vez mais máquinas. Depois de mais de uma década trabalhando na área de manufatura da AGCO, foi promovido para o setor de pós-vendas da empresa. Aproveitou o conhecimento técnico, acumulado ao longo dos anos, para oferecer um serviço altamente especializado: tira dúvidas e resolve eventuais problemas que possam surgir com o manuseio do equipamento.
Nenhuma máquina, por enquanto, é capaz de estabelecer relacionamento pessoal e entender tão bem a angústia do cliente do outro lado da linha. Por enquanto.
Para se adaptar à mudança no mundo do trabalho, o Rio Grande do Sul vai enfrentar desafios extras. Dados da Fundação de Economia e Estatística (FEE) mostram que cerca de 75% dos trabalhadores formais do Estado têm até o Ensino Médio completo e quase metade tem mais de 40 anos.
— Na próxima década, devemos assistir a um transbordamento deste movimento de automação para o setor de serviços, sobretudo para aqueles de menor qualificação, como comércio e atividades administrativas. Algo similar ao que vem sendo observado nas agências bancárias. A inserção de trabalhadores mais velhos e com menor escolaridade em novas atividades é mais desafiadora — explica a economista Cecilia Rutkoski Hoff.
Para entrar nessa onda planetária, o RS precisará de investimentos expressivos. Não somente em políticas que ajudem a enfrentar o desemprego estrutural que pode surgir como reflexo da maior presença de máquinas, mas em educação.
Rafael Lucchesi, diretor-geral do Senai e diretor de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria, afirma que a reforma do Ensino Médio é importante nesse novo contexto.
— Temos feito um enorme esforço de inclusão da formação técnica. É algo que os países centrais já vêm fazendo há muito tempo. Automação tem um papel importante na formação de competências essenciais do futuro. — diz. —Precisamos andar mais rápido. — completa Lucchesi.
Leia as matérias sobre o futuro do trabalho, primeira reportagem da série:
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O cientista italiano Federico Pistono afirma que para evitar uma crise sem precedentes os governos vão precisar mudar a maneira como cobram impostos. Leia a entrevista.
Estudo elaborado pela Federação Internacional de Robótica analisa a densidade de robôs que atuam na indústria de 42 países, incluindo o Brasil. Veja o infográfico.
Pesquisa da Universidade de Oxford, no Reino Unido, mostra a probabilidade das profissões que sumirão com o avanço da inteligência artificial. Veja a lista.