Dona Eva Sopher nos deixou muito mais do que um teatro. O São Pedro já não seria pouco. O antigo prédio da Praça da Matriz é um dos orgulhos do Rio Grande do Sul e do Brasil. Na plateia, gerações de gaúchos riram, refletiram e se emocionaram. Pelo seu palco, passaram e passarão grandes nomes da dramaturgia e da música. Raras casas de espetáculo merecem tantos aplausos de quem nelas se apresenta.
Quando começou sua campanha solitária, Dona Eva não queria apenas reerguer um prédio em ruínas. Queria vê-lo funcionar. E foi assim que, por décadas, cuidou pessoalmente de cada detalhe da operação, do veludo das poltronas ao sorriso na porta de entrada da plateia, onde costumava esperar pelo público.
O maior legado de Dona Eva, porém, foi a capacidade de unir o Estado em torno de objetivos comuns. Essa é a grande lição de uma geração que soube construir o que temos de melhor. Perseguida pelo nazismo na Europa, Dona Eva é um grande exemplo de reconstrução. Judia, dedicou boa parte da sua vida a um teatro com nome de santo. Tinha a convicção de que os pontos de união eram sempre maiores e mais importantes.
Sua campanha pelo Theatro São Pedro começou desacreditada. O prédio abandonado parecia ter como destino certo a demolição. Com tenacidade, foco e sensibilidade, Dona Eva foi angariando apoios para transformar o seu sonho na realidade de muitos. Gostava de ser chamada de "doce fera" e sempre repetia, com orgulho e sotaque germânico, que era "gaúcha por opção".
Nunca precisamos tanto de exemplo como esse. A tristeza que o Rio Grande e o Brasil sentem agora se transformará em saudade e na certeza de que sua obra transcende ao tempo e ao espaço. Concreta e simbolicamente, há duas maneiras de se enxergar um prédio em ruínas: um sinal de inevitável decadência ou uma oportunidade de reconstrução. Dona Eva sempre escolheu a segunda opção.