Num memorável programa, o aposentado David Letterman entrevista o ex-presidente dos EUA Barack Obama, que cita dois senadores americanos num diálogo incrível. Diz o menos letrado: "Posso não ter a sua sapiência, mas tenho direito à minha opinião". Ao que o colega retruca: "É claro que você tem direito à sua opinião, mas não aos seus próprios fatos".
Bem se aplica essa última frase aos dias que vivemos. Muita gente está perorando sobre os seus próprios fatos: não existem provas, os juízes são parciais, não há registro de propriedade (de um imóvel mal havido), a proximidade da autoridade com o empresário que lucra com o governo não prova nada, visitar, remodelar e mobiliar não são indícios de nada, o processo deveria ter sido mais moroso etc.
Bem, mas quem lê com minúcia a análise das provas fica convencido do delito. Um presidente que não prevarica não aceita participar de uma visita a um imóvel com o dirigente de uma empresa que transaciona altas somas com o seu governo, não conduz a esposa, não pede por benfeitorias, não encomenda móveis customizados, não pede a essa empresa que assuma um empreendimento de um sindicato que vai mal das pernas.
Quem lê com minúcia a análise das provas fica convencido do delito
RENATO SOARES GUTIERREZ
Médico
Injustiça se daria se tais encontros não tivessem existido, se o referido imóvel tivesse sido vendido a outrem, se o promitente comprador tivesse solicitado e pago pelas melhorias, se hoje em dia esse imóvel estivesse registrado em nome de alguém, não da empresa corruptora confessa, nesse e em outros delitos, contra a principal empresa pública do país. O que, aliás, ocorreu no governo do réu, e dos aliados por esse escolhidos na eleição de 2014. As tais más companhias, como dizia o Sr. Olívio Dutra.
Novamente, lá vêm os fatos próprios de alguém: o atual presidente não teve votos, numa democracia não poderia assumir a presidência. Ora, por quais diabos foi escolhido para constar na chapa oficial? Seus correligionários não votaram nessa porque lá estava o candidato do PMDB? Esses votos não ajudaram a eleger Dilma? Não foi apertadíssima a vitória? Teriam sido eleitos se o PMDB estivesse na outra chapa? Portanto, era o vice-presidente legítimo, que deve assumir em caso de impedimento, ao menos se nesses fatos estiver incluída a Constituição da República. Que é, salvo juízos celestiais, o fato principal.