Todos sabem que existem muito mais pessoas habilitadas para adoção do que crianças aptas para serem adotadas, sendo comum pessoas esperarem vários anos para serem abençoadas com uma criança.
A sociedade em geral fica perplexa com essa "demora dos processos de adoção".
Há muita diferença entre quem quer um filho(a) de quem é consultado para receber um.
Todavia, de certa forma, há uma explicação técnica: o processo de adoção envolve na realidade dois procedimentos, um de habilitação de quem deseja adotar, e outro de destituição do poder familiar dos pais biológicos.
Contudo, explica, mas não justifica.
Esclareço:
O processo de habilitação à adoção tem critérios técnicos e também de perfil do adotante, bem como o perfil da criança que eles desejam. Trata-se de uma opção, pensada e preparada de receber uma benção.
Na maioria dos casos a opção era por crianças recém nascidas ou com poucos meses e branca. Esse perfil mudou para aumentar a faixa etária e incluir de crianças de todas as raças, inclusive especiais.
É maravilhoso ver essa mudança, porque mostra uma sociedade mais esclarecida e mais pessoas sem pensamentos que podem determinar essa demora no processo de adoção.
Mas o que mais tem determinado a demora na adoção é o processo de destituição do poder familiar dos pais biológicos, com preferência em encaminhar a criança para pessoas do mesmo tronco familiar, para manter os laços biológicos.
Evidente o caráter protetivo dessa regra. Contudo, esse critério não privilegia a adoção e a criança, porque ela é destinada a quem não previa sua chegada, e ela pode ficar próxima de onde ocorreu o abandono ou a violência doméstica.
Outros Estados têm se limitando à destituição do poder familiar aos pais biológicos e desde já encaminhando a criança para adoção. Se o parente do tronco familiar quiser a criança, terá que se habilitar, aplicado o Estatuto da Criança e Adolescência, ou seja, os interesses da criança ou do adolescente devem ser privilegiados e protegidos.
Parentes do tronco familiar recebem essa criança mediante consulta, sem estarem preparados para recebê-la.
Diferente de quem está habilitado para adoção, que em 100% dos casos já tem quarto, roupa, cama, berço.
Precisamos mudar o viés da adoção, nos colocarmos na posição de quem está recebendo esse ser humano, porque há muita diferença entre quem quer um filho (a) de quem é consultado para receber um.
Uma coisa é opção por querer amar alguém, outra e receber alguém como forma de recolocação.
A adoção é uma opção e a espera por uma bênção. A recolocação em tronco familiar é consulta e transferência de objeto.