O Brasil sangra com uma violência urbana das mais intensas do planeta, e ninguém duvida que ela está associada ao tráfico e a atividades ilícitas correlatas. A primeira solução que nos ocorre é botar mais polícia na rua e prender mais gente. É exatamente aí que está a armadilha.
O que acontece quando prendemos um pequeno traficante? Ele vai para uma prisão superlotada, onde se filia a uma facção para poder sobreviver. Permanece filiado quando sai, por conta das dívidas e compromissos assumidos.
Portanto, ao prender cada pequeno traficante, estamos fortalecendo as grandes facções.
Quando prendemos vários, elevamos a percepção dos pequenos operadores do tráfico sobre o risco que correm. Com isso, eles tendem a recorrer aos peixes grandes em busca de proteção para suas operações.
Aumenta a intensidade de capital do tráfico de drogas.
Distribuir droga passa a ser negócio de gente rica e bem armada. A guerra atinge níveis mais elevados de violência. O Estado precisa se armar pesadamente para entrar nesse círculo vicioso. E os homens ricos que comandam o tráfico aparelham o Estado, entrando nas instituições (inclusive na Justiça) para corrompê-las.
Como quebrar essa estrutura que parece desenhada para se perpetuar? Há reformas bem-vindas no sistema penal e na priorização de políticas de segurança. Separar claramente os usuários dos pequenos traficantes e dos grandes articuladores das redes de distribuição.
De toda forma, o jogo vai virar quando os EUA mudarem sua posição sobre produção e comércio de cannabis. No momento, estão criando uma indústria altamente tecnificada para produzir insumos e produtos derivados da planta, que já podem ser comercializados em alguns Estados. É questão de tempo até que passem a evangelizar a abertura dos mercados globais de maconha. A InBev da maconha provavelmente será americana. Vão ganhar mais um jogo de centenas de bilhões de dólares, enquanto nós assistimos de mãos dadas com nossa hipocrisia.