Cresce na sociedade atual a prática da cremação. Essa postura diante do corpo dos falecidos suscita uma reflexão sobre o sentido do findar a existência. Na antiguidade, essa prática tinha duas razões: a necessidade de trazer de volta os soldados mortos para receberem sepultura em sua pátria, como entre os gregos, e convicções religiosas, como para os escandinavos, que acreditavam libertar o espírito do invólucro carnal e evitar que o morto pudesse causar algum mal aos vivos.
O que deve ser garantido é que essa prática não seja expressão de oposição à esperança na ressurreição.
Era prática judaica enterrar os mortos na terra ou em túmulos de pedra, enquanto a cremação era contemplada com horror. Os cristãos seguiram o exemplo dos judeus e aceitavam o ensino de que o corpo é o templo do Espírito Santo e, como tal, deveria ser respeitosamente enterrado. O Cristianismo sustenta claramente que os mortos ressuscitarão e que sua identidade pessoal será restaurada em plenitude. Por isso, sempre se opôs à cremação, ao passo que permitiu certa variedade de enterros, seja dentro ou nos jardins de igrejas, solos consagrados fora da cidade ou em cemitérios seculares.
Atualmente, a Igreja Católica não põe qualquer objeção à cremação, mas dá preferência ao sepultamento. O que deve ser garantido é que essa prática não seja expressão de oposição à esperança na ressurreição. A Igreja exorta ainda que não esparjam as cinzas na natureza. O corpo é concreto. O que resta dele é um sinal de referência. Daí o valor de conservar com respeito as cinzas. Na morte voltamos para Deus e não para a natureza, embora o Criador possa reconhecer os seus sem que o fogo que incinerou os corpos e o verde da natureza que os absorveu possa impedir.
Santo Agostinho afirma que, embora o morto não saiba o que ocorre na terra, a observância dos ritos funerais indiretamente lhe proporciona benefícios na medida em que os vivos que visitam suas tumbas são levados a recordá-los e orar por eles. Cuidados especiais devem ser tomados com os corpos dos mortos, porque eles foram os companheiros da alma nas atividades da vida e porque, tendo sido parte de uma pessoa humana durante a vida terrena, serão novamente parte dessa mesma pessoa na ressurreição final, da qual a Ressurreição de Cristo é causa, certeza e esperança.