Às vésperas de mais uma campanha eleitoral, só pode ser considerada inquietante a percepção que os brasileiros, mesmo apoiando majoritariamente a democracia, têm desse sistema de governo. Em sua mais recente edição, a conceituada pesquisa Latinobarómetro, realizada por uma ONG chilena, confirma que 62% dos entrevistados no Brasil consideram a democracia como o melhor sistema de governo. Ainda assim, apenas 13% do total se declara satisfeito com o seu funcionamento, percentual inferior inclusive ao da Venezuela. Desfazer esse desencanto deveria ser assumido como um compromisso de todos os políticos que ousarem sair pedindo voto nas próximas eleições.
O descontentamento não é com a democracia, mas com a forma como funciona.
A razão para o descontentamento em patamares recordes na comparação com os demais países latino-americanos é óbvia. Deve-se acima de tudo à percepção de que políticos e governantes estão mais voltados para seus próprios interesses, não para os da população. A constatação de que apenas 3% dos entrevistados veem o governo brasileiro agindo para o bem de todos, por si só, já deveria ser suficiente para provocar uma mobilização imediata. É preciso mudar esse quadro, ainda que seja difícil acreditar em bons propósitos nessa área.
A particularidade de a corrupção no Brasil aparecer com o percentual mais alto entre as preocupações de 18 países pesquisados não surpreende. Apenas confirma a impressão generalizada de que quem deveria estar preocupado em defender os interesses da maioria mostra-se, de maneira geral, mais interessado em garantir a sua parte e a de seus apadrinhados. O fato de faltar dinheiro para áreas essenciais, mas sobrar para ser distribuído entre parlamentares quando há votações importantes no Congresso sob o ponto de vista do governo, só reforça isso.
Felizmente, nem todos os números indicam desalento. É promissor que, mesmo não se considerando favorecidos pela democracia, cada vez mais brasileiros respaldem esse sistema de governo. De 30% em 2001, o percentual de apoio saltou para 43% neste ano. O descontentamento, portanto, não é com a democracia, mas com a forma como funciona. Essa é uma questão que os próprios eleitores, por meio de seu voto, precisarão resolver.