Muito antes de o desde sempre constrangedor acordo de delação premiada com Joesley Batista e outros executivos da JBS enfrentar essa reviravolta, havia fortes indícios de problemas sérios no acerto costurado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. O objetivo central desse instrumento, que tem se mostrado essencial para a continuidade dos trabalhos da Lava-Jato, é fazer justiça. E, até agora, justiça foi o que menos foi feito nesse episódio.
Um dos maiores corruptores da história do Brasil – se não o maior de todos – saiu livre, leve e solto depois de dar margem, com suas denúncias, à maior crise política do governo Michel Temer. A desproporção entre as denúncias e o tratamento dispensado aos autores foi percebida como uma bofetada por quem confiava na possibilidade de a Lava-Jato se tornar a faxina de todas as faxinas do país.
Apressada, a delação liderada pelos irmãos Joesley e Wesley Batista, que montaram um império em parte com base em benesses oficiais, foi deixando uma trilha de desconfianças e intrigas para trás. Aos poucos, começavam a aparecer as pistas. Entre os muitos fatores que contribuíram para colocar um manto de incógnitas sobre o acordo, estão a ausência da Polícia Federal nas negociações, a precipitação do procurador-geral em divulgar uma gravação não periciada, a constrangedora virada de casaca de um de seus principais colaboradores, a estranha ausência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nas denúncias e a evidente estratégia política para desgastar o já desgastado presidente da República.
Agora, quando o próprio procurador-geral, às vésperas de deixar o cargo, vem a público denunciar indícios de omissão, deve-se reconhecer o seu mérito em não tentar varrer os problemas para debaixo do tapete, transferindo-os à sua sucessora. Mas, se tivesse sido menos afoito, não teria definido uma flagrante injustiça, mesmo que involuntariamente, ao dar um aval de honestidade a Joesley Batista e outros comparsas. Ao mesmo tempo, teria evitado dar margem a contestações políticas à Lava-Jato e ao papel das colaborações no combate à corrupção.
A reviravolta no caso JBS significa uma oportunidade de se revisarem equívocos nos acordos de delação. É o que esperam a opinião pública e o país, para o bem da moralidade e da Lava-Jato.