Em entrevista recente, o atual presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou que o banco havia "quebrado a espinha dorsal da inflação" nos últimos 12 meses; na sequência, o Conselho Monetário Nacional reduziu a meta da inflação para 2019 e 2020 para 4,25% e 4 %, respectivamente.
Não há dúvidas de que houve um certo exagero na afirmação de Ilan, uma vez que o trabalho do Banco Central se restringe à administração da política monetária, principalmente na fixação da taxa de juros oficial, taxa Selic, que pode chegar a menos de 9% ao final do ano. Na realidade, a rápida queda da inflação se deu, principalmente, como resultado do longo processo recessivo pelo qual o Brasil atravessou a partir de 2014, quando, além da queda na economia, convivemos com inflação e juros elevados; embora o PIB tenha caído próximo de 8% entre 2015 e 2016, a inflação acumulada, medida pelo IPCA, ficou em 17%.
A partir de 2016, a queda do dólar o trouxe para os níveis atuais, juntando-o à recessão para auxiliar no processo de desinflação, pois dólar apreciado estimula a inflação. O cenário externo benigno, onde as economias líderes vêm mantendo taxas de juros reduzidas e elevada liquidez, juntou-se à segurança oferecida pela economia brasileira com suas reservas internacionais superiores a US$ 370 bilhões, superávit da balança comercial próximo a US$ 50 bilhões e investimentos externos diretos em torno de US$ 80 bilhões. A estabilidade cambial foi decisiva para que a inflação chegasse aos níveis atuais com um IPCA de 4%, que viabiliza o atual ciclo de corte da taxa Selic e a decisão da redução do centro da meta de inflação.
Ainda sobre o exagero de Ilan, é fundamental que se diga que a política monetária é refém do resultado fiscal para sua eficácia no controle da inflação. A origem do desastre econômico atual está na expansão do gasto público e a perda de seu controle, sobre o qual a taxa de juros não atua.
Recessão, câmbio estável, alto desemprego, queda no desempenho de todos os setores econômicos e diminuição do consumo de famílias e governo dão consistência no curto prazo para a queda da inflação e dos juros oficiais.
O problema do Brasil é seu futuro, onde o equilíbrio fiscal necessita ser alcançado e a resolução do déficit previdenciário (leia-se reforma) é parte do ajuste fiscal. Em 2017, o déficit fiscal deverá superar R$ 140 bilhões, o equilíbrio está distante e a retomada da atividade econômica para o aumento da arrecadação não ocorre. Logo, ou se ajustam as despesas com a Previdência, ou a questão fiscal predominará, ameaçando com o retorno da inflação e de um novo ciclo de alta de juros.