Tenho viajado bastante neste ano, no Brasil, fora, e aqui no Rio Grande do Sul. É bom traçar novas rotas, conhecer paisagens. É bom repetir rotas antigas e conhecidas. Depois, marcar tudo num mapa-múndi mental, virtual ou físico, pra guardar as memórias das passagens e dos rastros que deixamos no mundo.
Não dirijo. Vou onde me levam. Não que eu não escolha ou não participe do empenho da jornada, mas não dirigir te coloca numa posição de passividade durante o deslocamento da viagem. Tu ficas ali à mercê do caminho, do trajeto, do ou da motorista. (Exceto se for de bicicleta, mas este é outro assunto.) Isso é bom ou ruim. Se o trajeto não te reserva nenhum entrave maior, é bom, tu só curtes o vento na cara e as luzes rápidas que passam aos olhos.
Mas, por exemplo, moro em Caxias e, no fim de semana, precisei cumprir um compromisso em São Francisco de Paula. Fica a uns 140 quilômetros daqui, pela Rota do Sol. A questão é que não há uma linha de ônibus direta. Eu teria que ir a Porto Alegre ou Canela primeiro, para depois ir a São Chico.
Eis o entrave, uma rota não prevista, não executável pra quem não dirige. O tempo de deslocamento e o custo triplicam. Porém, todo viajante deve ter criatividade, faz parte da viagem. Isso me ajudou a resolver o problema.
Alugamos um carro e fomos para São Francisco em família. Eu fui na carona, é claro. Dirigiu minha namorada. De lá, nos deslocamos a Cambará do Sul, aproveitamos o domingo para visitar os cânions. Que espetáculo! Ali, a geografia se abre em fenda e te convida a imaginar outros caminhos possíveis, observando o trajeto do próprio mundo, sua curva, seu infinito. A paisagem te põe pequeno ser, perante a magnitude da Terra e, quando percebemos, estamos numa viagem interior muito maior do que o deslocamento físico. A essa experiência dou o nome de travessia.