Nas últimas colunas, escrevi sobre estratégias dos donos da JBS para ficar com um dinheiro que geraram à custa do povo brasileiro por meio da falida política das "campeãs nacionais": evasão para os EUA, banco Original e desvio de multas aos fundos de pensão. Nesta semana, a Google foi multada na Europa. Vai pagar uma soma semelhante à multa da JBS por ter beneficiado a si mesma em seus mecanismos de busca.
É verdade que a Google não usou dinheiro público para cometer esses crimes e emprega gente qualificada para criar produtos complexos, com muito valor agregado. Melhor do que a JBS, que mata boi, mas faria qualquer outra coisa para embolsar nosso dinheiro. Por outro lado, o projeto de poder mundial da Google é mais ousado e perigoso. O que ambas têm em comum: a megalomania e a disposição de fazer qualquer coisa para se tornarem monopolistas em seus mercados.
Será que esse comportamento tem cura? Ou é um fenômeno inerente à relação entre grandes capitalistas e governos? Há soluções pouco eficazes, como governança corporativa, regulação de mercados e garantia da concorrência. Penso, no entanto, que outras formas de praticar o capitalismo estão surgindo debaixo dos nossos narizes.
A Embraer, maior exportadora brasileira de valor agregado, não para de lançar produtos inovadores e empregar tecnologia. Temos cooperativas, nos setores de alimentos e finanças, que ajudaram a desenvolver territórios inteiros de maneira mais igualitária e, hoje, também investem em P&D. Que tal estudarmos essas organizações para entender o que as faz dar certo no Brasil?
Temos também uma geração inteira de empresas que assumiram o compromisso de gerar impacto social ou de serem empresas gratificantes para todas as partes envolvidas, como é o caso das Empresas B e das Small Giants, que frequentemente distribuem grande parte das ações aos funcionários, o que descentraliza a estrutura de poder e previne a megalomania. Isso também acontece com empresas que captam investimentos pela internet.
Estruturas distribuídas de poder, missões claras, articulação de capital humano para inovar. A solução está surgindo. Só precisamos enxergá-la.