O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi o autor de um alerta particularmente promissor para os brasileiros nesse momento agudo da crise política e econômica. Ainda que não pareçam haver saídas fáceis para o impasse, o relator da Lava-Jato e do caso JBS agiu com sensatez ao ressaltar que a solução para todos os males não se resume ao sistema penal punitivo, nem está na demonização da política, mas sim na reconciliação do país com a sua própria sociedade. Em recente cerimônia no STF, o ministro disse acreditar que a alternativa é o resgate de "valores fundamentais em torno dos quais a sociedade há de se manter minimamente coesa", na defesa das instituições, da Constituição, da sociedade livre e da democracia.
É natural que, aturdidos pela crise, agravada a cada semana, os brasileiros considerem difícil imaginar qualquer perspectiva de saída justamente pela política. Chega a parecer mesmo um contrassenso. Pouco mais de um ano depois de o país passar por um processo de impeachment, o presidente da República, Michel Temer enfrenta índices históricos de rejeição em pesquisas de opinião pública. E, acossado por suspeitas, está na iminência de ser denunciado por crime de corrupção passiva pela Procuradoria Geral da República.
Os integrantes da Câmara, aos quais caberá aceitar ou não a denúncia contra a Presidência, estão em boa parte envolvidos com as delações da Lava-Jato e da JBS. E, por isso mesmo, conspiram em grande número contra as instituições, na expectativa de que, enfraquecendo-as, teriam mais chance de se preservar. As pressões políticas para a troca de comando na Polícia Federal, por exemplo, foram temporariamente contidas. O risco de esfriamento do combate à corrupção, porém, se mantém.
Diante desse tipo de ameaça, é mais do que hora, como alerta o ministro do STF, "de redenção constitucional brasileira, é mais que urgente o tempo de edificar no espaço da grande política o tripé mínimo para a liberdade, a ética e o desenvolvimento". Os brasileiros precisam acreditar que, mesmo quando a crise parece sem solução à vista, como nesse momento, a saída está na própria política.
O importante é que, mesmo desafiada, a democracia resiste. E resiste, acima de tudo, porque as instituições seguem funcionando, atentas aos seus deveres constitucionais para promover a tão esperada reconciliação do país com toda a sociedade.