As gravações feitas pelo empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, liberadas ontem à noite pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mostram o presidente Michel Temer em situação inadequada para um político, ainda mais para um chefe de Estado. Mesmo que o autor dos áudios tenha armado a situação, que faz parte da sua delação premiada, é incompreensível, é constrangedor ouvir-se tal comentário da boca de um presidente da República.
Por isso mesmo, o caminho deve ser o cumprimento estrito da Constituição e do Estado de direito. O STF, que até agora tem dado demonstrações renovadas de independência, deve ser o grande fiador de uma apuração isenta e desapaixonada, sem tergiversações.
É lamentável, porém, que neste cenário as reformas sejam paralisadas e a incipiente recuperação da economia sofra tamanho abalo, como demonstrou ontem o desempenho do mercado financeiro. Bilhões de reais em patrimônio das empresas estão sendo queimados em razão de uma crise política que poderia ter sido evitada. Quem mais sofrerá serão os desempregados – a ponta mais fraca e sem voz do jogo político, que viu a tomada de cena por namorados do caos em busca de um protagonismo imoral em meio à balbúrdia no Planalto.
Ninguém ganha com o aprofundamento da crise econômica. Por isso, o país precisa manter um mínimo de tranquilidade e seguir trabalhando em busca da recuperação, ainda que de solavanco em solavanco.
Desde o começo da crise, que atingiu em cheio o governo e provocou estragos importantes em sua equipe e na base de apoio, a possibilidade de renúncia vem sendo aventada em Brasília. O presidente rechaçou ontem essa hipótese em pronunciamento à nação. A alternativa, porém, pode ser uma saída apropriada caso se crie um quadro de ingovernabilidade que comprometa a normalidade institucional.
Eleições diretas não apenas são inviáveis, pois não têm como ser realizadas em pouco tempo, como não estão previstas na Carta. Seja qual for o desfecho da crise, o país deve se manter fiel à Constituição.