Quando aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocam atos de rua no mesmo dia, local e horário de seu depoimento à Justiça, é porque pretendem criar um indefensável clima de intimidação com o qual defensores de um país mais ético não têm como consentir. Por isso, fez bem o juiz Sergio Moro ao pedir que apoiadores da Lava-Jato, hoje uma espécie de ícone do combate à corrupção, evitem dar margem para violência em Curitiba. Juízes precisam de ampla liberdade e de salvaguardas para julgar com autonomia e isenção. A decisão tem que ser tomada com base nos autos, não em pressão popular de qualquer tipo.
Ao convocar simpatizantes, o ex-presidente e aliados reafirmam o pouco ou nenhum apreço pela Justiça. O ex-dirigente – indiciado por corrupção passiva, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro – terá amanhã justamente a oportunidade de se manifestar sobre as suspeitas de ter recebido vantagens indevidas da empreiteira OAS, relacionadas a um apartamento triplex em Guarujá. Não se trata de minimizar o fato de o interrogatório envolver uma figura pública conhecida, que já ocupou o mais elevado cargo público no país. A fronteira entre o direito de defender Lula e a tentativa de intimidar a Justiça precisa ser respeitada. O que não há é qualquer justificativa para transformar uma audiência em ato político-partidário, com risco de culminar em excessos, que só serviriam de pretexto para radicais interessados em atropelos à democracia.
A resposta diante de ameaças deve ser a lei e a garantia de tranquilidade de que a justiça, um dos pilares da democracia, seja plenamente exercida. Por mais que segmentos incomodados insistam em apontar eventuais excessos e falhas, seja como parte da estratégia de defesa ou mesmo num esforço deliberado de enfraquecer a operação, o fato concreto é que as instituições vêm cumprindo o seu papel, em diferentes instâncias. Não é diferente com a Lava-Jato, que vem demonstrando a capacidade de resistência a pressões sistemáticas, depois de três anos ininterruptos de investigações.
Com a convocação de militantes, orientados até mesmo a "se trajar com simbologia da luta", o ex-dirigente e aliados só contribuem para reafirmar suas tentações autoritárias. Esse é o comportamento típico de quem não encontra argumentos para a defesa que não seja uma delirante e insustentável teoria de perseguição política.