O escândalo exposto pela delação premiada de proprietários e executivos da JBS escancarou o fracasso de um modelo imposto pelos governos petistas: ser amigo do poder era o que mais contava. O risco de que esse intervencionismo estatal via BNDES ressurja não está totalmente afastado – e o temor é inevitável no momento em que a presidente da instituição, Maria Silvia Bastos Marques, pede para deixar o cargo.
A ênfase a critérios escusos para a eleição de empresas, mirando mais o potencial de contribuições de campanhas políticas do que o mérito e o potencial de mercado, gerou sérias deformações. A gigante na área de carnes, depois da Odebrecht e do conglomerado de Eike Batista, é apenas o exemplo mais recente da desastrosa opção pelo apadrinhamento.
O delírio das "campeãs nacionais", como foi planejado, deveria servir como lição ao governo Temer. Em países como a Coreia do Sul e mesmo no caso da brasileira Embraer nos anos 1970, a opção foi relativamente bem sucedida. A questão é quando passam a prevalecer interesses políticos e não uma visão estratégica de país.
A coincidência de tantas candidatas a players brasileiras no mercado global estarem desabando quase ao mesmo tempo sob o peso da ineficiência e do endividamento é a prova mais cabal do equívoco colocado em prática. Embora o caso da JBS esteja mais em evidência, talvez o mais sintomático seja o da Oi. Brindada com somas expressivas de verbas oficiais sob a expectativa de que poderia se transformar numa espécie de "supertele nacional", exigindo até mudanças apressadas na legislação, a empresa está às voltas com o maior processo de recuperação judicial do país.
Diante dos excessos, o BNDES alterou sua política, principalmente a partir da posse de Maria Silvia, uma técnica respeitada pelo mercado, que mantinha pulso firme na administração dos empréstimos. Apesar da rápida indicação de um economista conceituado como Paulo Rabello de Castro, a queda da presidente da instituição é mais um baque na já frágil credibilidade de um governo que vinha mantendo, na economia, um de seus únicos pilares.
O combate à corrupção precisa contribuir para uma mudança imediata de critérios na alocação de dinheiro público para o setor privado. Os contribuintes não têm como continuar arcando com uma conta pesada de desmandos, de incompetência, de má-fé, sem controles adequados de fiscalização, por parte dos responsáveis pela formulação de políticas econômicas.