Foi decepcionante, para a maioria dos analistas, a dimensão das manifestações em defesa da Operação Lava-Jato no domingo passado. Concentrações de rua foram registradas em 21 capitais, mas a maior delas, na Avenida Paulista, reuniu 15 mil pessoas, segundo os organizadores – uma sombra dos estimados 500 mil participantes no protesto contra a então presidente Dilma Rousseff, em 13 de março de 2016. Se tivessem de escolher um hino, os manifestantes do 26 de Março poderiam optar por Roberto Carlos: "Eu me lembro com saudade o tempo que passou / Carrões e gente numa festa de sorriso e cor / Jovens tardes de domingo, quantas alegrias / Velhos tempos, belos dias".
Não que haja motivos para se comemorar o ponto a que chegou o país. O número de desempregados acaba de bater a marca de 13,5 milhões, recorde desde 2012. Em janeiro, a atividade econômica medida pelo Banco Central caiu 0,26%, totalizando uma retração em 12 meses de 3,99% na série sem ajuste e de 4,4% no dado ajustado.
Pela régua da opinião pública, o governo Michel Temer chegou ao volume morto: os que avaliam a gestão iniciada em maio do ano passado como ruim ou péssima somaram 55% em pesquisa Ibope/CNI divulgada ontem. Em dezembro de 2015, quatro meses antes de sofrer impeachment, Dilma era considerada ruim ou péssima por 70%. Mas o principal objetivo da presidente se limitava a permanecer no cargo, enquanto o homem do Jaburu ainda não conseguiu triunfar sobre a recessão e reformar a Previdência, principais tarefas de sua administração.
É enganoso pensar que o fracasso do 26 de Março indique uma perda de charme da Lava-Jato. Segundo o Ibope/CNI, a operação de Curitiba ainda é o segundo principal tema a mobilizar a atenção dos brasileiros. Talvez a falta de apelo dos protestos de domingo esteja ligada à atitude adotada em relação ao tópico que ocupa o primeiro lugar na pesquisa: a reforma da Previdência. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, alguns dos grupos que convocaram as manifestações de domingo passado incluíram na pauta a defesa explícita da reforma. Onze dias antes, sindicatos e centrais haviam levado às ruas o maior contingente em um ano em contraposição ao projeto de Temer. O ronco das ruas foi, desde 2013, o fator decisivo da cena política nacional. Não há motivo para imaginar que, justamente num ano como este, os brasileiros preferirão ficar em casa.