Suspensa do Mercosul por motivos burocráticos, devido ao não cumprimento de compromissos assumidos há cinco anos, a Venezuela não tem como evitar sua expulsão do bloco econômico se não assumir de imediato um compromisso firme e transparente com a democracia. Reunidos em caráter emergencial em Buenos Aires no último sábado, os chanceleres da Argentina e de Brasil, Paraguai e Uruguai deram um ultimato ao país caribenho ao ativar a cláusula democrática. A alegação foi o fato de ter ocorrido uma "ruptura da ordem democrática na República Bolivariana da Venezuela". Como a democracia é um pressuposto do grupo, não pode haver mais condescendência a partir de agora.
A volta atrás do governo de Nicolás Maduro, que ainda no sábado recuou da decisão de cassar os poderes da Assembleia Nacional, controlada por opositores, só ocorreu devido a uma forte pressão internacional. Mas precisa ser vista apenas como gesto isolado de um país que, mergulhado no caos social e econômico, ainda precisa garantir a efetiva separação entre os poderes, o respeito aos direitos humanos, às instituições democráticas, à liberdade de manifestação e ao cronograma eleitoral. Ou a Venezuela assume de imediato um compromisso firme e transparente com a democracia, retomando a plena vigência das instituições, ou é expulsa do Mercosul.
Possivelmente, o policiamento das esquerdas – incluindo a brasileira, que só condena autoritarismo quando lhe convém – e a retórica de Nicolás Maduro, colocando-se de forma contumaz como vítima "da direita", devem ter dificultado uma tomada de posição ainda mais firme por parte dos fundadores do Mercosul. Num bloco como o formado pelo Tratado de Assunção, porém, o que ocorre num país-membro acaba influenciando os demais. O Mercosul não tem como abrir mão de uma cláusula como a democrática, da qual é indissociável.