A Operação Carne Fraca, que investiga pagamento de propinas a fiscais sanitários e procedimentos irregulares por parte de frigoríficos e empresas exportadoras de carne, tende a provocar profundo abalo no agronegócio, o único setor da economia brasileira que passava ao largo da crise. Nesse contexto, merece atenção o desabafo do ministro Blairo Maggi, da Agricultura, sobre os danos causados ao setor agropecuário pela maneira como a Polícia Federal divulgou problemas pontuais como se fossem generalizados.
A Polícia Federal, assim como o Ministério Público e o Judiciário, tem um imenso crédito junto à população, pelos resultados que vem obtendo na Operação Lava-Jato e em outras investigações de corrupção no país. Mas alguns equívocos cometidos nesta última ação, entre os quais a confusão relacionada às embalagens de papelão, indicam que limites de precisão e responsabilidade podem estar sendo ultrapassados pela pressa na divulgação ou mesmo pela necessidade de demonstrar independência em relação ao Executivo. Depois de conhecidos detalhes da operação e dos seus efeitos para a imagem e os negócios do Brasil no Exterior, fica no mínimo uma dúvida: será que a fraude tinha dimensão para o catastrofismo gerado pela sua divulgação do modo como foi feita?
Equivoca-se o ministro ao dizer que a Polícia Federal tinha que ter comunicado o Ministério da Agricultura antecipadamente. Não tinha, até mesmo para não alertar sobre os servidores que estavam sendo investigados. Mas, na entrevista coletiva convocada para divulgar a operação, era importante a presença de um representante do ministério, para dar as explicações que o governo agora se apressa em passar para os países importadores, na tentativa de atenuar o estrago.
A exportação de carne e derivados é essencial para a economia brasileira. As irregularidades apuradas na produção e na fiscalização têm que ser punidas exemplarmente, mas não podem ser hiperdimensionadas a ponto de desqualificar um setor que conquistou credibilidade internacional com a qualidade e os cuidados sanitários de seus produtos.