O dia 20 de setembro de 1835 marcou-nos na história como "o povo gaúcho com suas façanhas", o que muito nos envaidece. Também temos orgulho do quanto contribuímos para o Brasil com nossas posições e lideranças que influenciaram nos destinos da nação. Agora, comemoramos a lembrança de algo que fomos e fizemos, mantendo elevada a nossa autoestima pelos feitos do passado. Mas, no presente, perdemos posições no ranking nacional (mesmo considerando a crise que o Brasil, como um todo, enfrenta).
Ao comemorar o passado, esquecemos do presente e de entender o processo que nos desqualificou a ponto de nos conduzir à maior crise que um Estado brasileiro enfrenta. O governo estadual, hoje, tem nas mãos as consequências desse processo construído por todos nós nas últimas décadas.
Nossa apatia alienada não controlou a conjuntura de fatores de um processo político que permitiu que a máquina pública e seus benefícios (aos quais o cidadão comum não tem acesso) transformassem o Estado em um ente maior do que a própria sociedade gaúcha. Para a construção deste cenário, influenciou a nossa cultura da contestação, na qual antes de sermos a favor de algo, somos contra este algo. As corporações polarizaram reivindicações com o governo, sob o olhar de uma sociedade desinteressada, mesmo sofrendo as consequências deste processo de controle social e político.
Atualmente, o governo enfrenta a crise buscando alternativas para conseguir quitar as contas e uma dívida quase impagável. Dar um basta e reformar o Estado é a nossa façanha moderna urgente, por meio de uma agenda proativa e convergente que atinja causas-raiz da profunda crise atual. Resolver o que precisa ser resolvido será o nosso heroísmo dos tempos atuais. Neste contexto, precisamos vencer a cultura binária extremada, o anacronismo ideológico "direita e esquerda", o domínio das corporações, o conceito de Estado "máximo e mínimo" ou de "estatizar e privatizar" etc. Temos que decidir não por ideologias que não resultam em nada, mas pelo pragmatismo de um Estado com o tamanho que a sociedade possa suportar e que se atenha a cumprir o seu papel de indutor do bem-estar social através de serviços de qualidade. A envelhecida radicalização entre situação e oposição tem que se subordinar aos interesses convergentes do RS.
Com a palavra, a sociedade gaúcha: orgulho só do passado ou do futuro também? Chega de bravatas duais pautadas por radicalizações que apenas desconstroem o RS e a qualidade de vida da sociedade gaúcha. O Rio Grande tem de ser maior que tudo e nosso ato heroico é propor-nos a fazer acontecer.