Equivocam-se o presidente Michel Temer e integrantes de seu governo ao desconsiderarem as manifestações de rua que começaram a ganhar força em algumas cidades, desde o afastamento de Dilma Rousseff. Descontados os excessos praticados por arruaceiros que só ajudam a criminalizar os movimentos, muitos cidadãos estão, sim, exercendo o direito constitucional de se posicionar politicamente e de pedir mudanças. Essas pessoas, que hoje prometem voltar às ruas na data da maior comemoração cívica nacional, precisam ser ouvidas e respeitadas. Esse é o caminho mais sensato para a superação de sequelas legadas pelo processo de impeachment e de troca de comando no Planalto.
É preocupante para o país, que tem pressa em aprovar reformas estruturais até agora em compasso de espera devido à crise política, continuar às voltas com insatisfações da rua que, inevitavelmente, acabam influenciando as decisões de governantes e parlamentares. Há ainda mais razões para inquietação quando se sabe que, diante da gravidade da situação econômica, o governo não tem como adiar a adoção de providências emergenciais. São medidas amargas, portanto impopulares e com potencial para gerar ainda mais descontentamento, particularmente entre integrantes de movimentos que hoje já estão nas ruas.
O país precisa ser pacificado, e não será com desprezo ou confronto que haverá convivência entre visões diferentes. As manifestações incomodam, revelam inconformismo de quem está perdendo poder, mas são legítimas – desde que, obviamente, não descambem para depredações e vandalismos.