Cada vez mais, os fatos insistem em desmentir uma frase pirotécnica de um ex-presidente que há 10 anos, num de seus arroubos, afirmou que a saúde pública brasileira se aproximava da excelência. Ninguém minimamente informado e isento o levou a sério, claro.
O fato é que nos últimos anos a assistência de saúde no país só piorou.
Quem costuma vivenciar o ambiente hospitalar constata essa assustadora decadência dia após dia – e sofre com isso. Por isso, não se surpreende quando estudos como os divulgados recentemente pelo Conselho Federal de Medicina registram que apenas 10% dos 5.750 municípios brasileiros têm leitos de UTI em estabelecimentos públicos ou conveniados ao SUS, e que quase 24 mil leitos de internação foram desativados na rede pública entre 2010 e 2015.
A medida, que ajuda a explicar a permanente superlotação das emergências em todo o país, atinge diretamente os 150 milhões de brasileiros que dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde. É mais um dado estarrecedor sobre a situação falimentar da saúde pública brasileira. São informações que ratificam o descaso de sucessivos governos com a qualidade da assistência neste país, em que a cada ano mais pessoas de todas as idades morrem ou ficam com sequelas em função da demora no atendimento.
É um quadro desolador que – parece inacreditável – ainda pode piorar com a redução de R$ 5,5 bilhões no orçamento destinado à saúde, o que deverá afetar inúmeros serviços, como o programa de farmácia popular. Sem contar que mais leitos serão extintos, mais hospitais fechados.
No Rio Grande do Sul, houve acréscimo de 806 leitos no período considerado, mas a julgar pelo número alarmante de hospitais do Interior que estão cortando leitos em função do recrudescimento da crise que atinge toda a economia, até o final do ano a situação, infelizmente, deverá ser outra.
Em função do subfinanciamento da saúde, que atinge também materiais e equipamentos, médicos e demais trabalhadores da saúde pública convivem com salários atrasados na rede pública. São profissionais que resistem bravamente para não deixar a população completamente desassistida.