O achado poético de Guimarães Rosa, "pães pães, opiniães opiniães", esconde profunda lição de sabedoria. Detesto gente que quer impor sua visão de mundo no grito, que fala ou escreve como quem detém, em seus juízos de valor, verdades absolutas. A crítica brasileira, exercida em nossas revistas e jornais, deveria reler Rosa. Esses dias, demolidora como costuma ser em seus excessos habituais, a revista Veja destruiu Velho Chico, em termos que beiram um desrespeito surreal.
Que alguém não goste de novela é perfeitamente aceitável. Que não se reconheçam méritos em obra como essa são outros quinhentos. Não pode. Na maior rede nacional, o folhetim das nove, desde o nome, expõe a realidade preocupante do rio São Francisco, a miséria crescente de sua população ribeirinha, o desaparecimento criminoso de um dos principais pulmões ecológicos do país. Não é pouco.
Exemplos caricatos de políticos brasileiros e ingredientes inevitáveis de uma produção diária, e industrial, estão ali bem representados. Há qualidades notáveis: figurinos inusitados, trilha sonora excepcional, elenco afinado, direção inventiva, e, sim, a peruca ridícula do Antonio Fagundes - assunto dominante das redes sociais. Na terra dos Cunhas e Bolsonaros, o ator demonstra seu gigantesco talento ao construir o arquétipo de um coronelismo datado, infelizmente ainda encontrável nos grotões pátrios. Vai tirar de letra a cena onde perder a peruca...
Crítica e equilíbrio deveriam andar juntos. Mas isso quase nunca acontece. A primeira peça que dirigi, em 1974, O Canto do Cisne, recebeu duas críticas, por acaso publicadas no mesmo dia. Uma me tratava como a mais promissora promessa do teatro gaúcho em décadas; a outra, me arrasava sem dó, porque o espetáculo destruía o texto de Tchekhov de forma irresponsável. Tinha de escolher em quem acreditar, e escolhi: não acreditei em nenhuma. Segui meu caminho burilando o diretor que eu queria ser, produzindo proficuamente o teatro em que acredito.