O presidente interino Michel Temer anunciou que irá ao Congresso Nacional nesta segunda-feira para apresentar aos parlamentares a nova meta fiscal e também para pedir apoio às medidas econômicas de seu governo para tirar o país da crise. Mais do que o déficit orçamentário assustador de R$ 170,5 bilhões, anunciado pelos ministros da área econômica na última sexta-feira, o que o governo pretende compartilhar com o parlamento é o desgaste político da batalha pela austeridade, que incluirá corte de despesas públicas, reformas impopulares, renegociação das dívidas dos Estados, redimensionamento de programas sociais e, muito provavelmente, criação de novos tributos.
Embora sejam questionados pela administração anterior, os números apresentados pelo governo Temer parecem estar bem mais próximos da realidade, ainda que a chamada contabilidade criativa pareça estar sendo substituída por uma contabilidade aflitiva. A perspectiva de déficit estratosférico tende a assustar o mercado e os investidores externos, mas também coloca a nação em sintonia com o problema e com o sacrifício que todos terão que fazer para superá-lo. Resta esperar que o governo utilize o seu capital político e aja com firmeza, superando hesitações preocupantes como a que cercou o episódio da extinção e da ressurreição do Ministério da Cultura. Se não tiver coragem para suportar as pressões, que serão muitas, dificilmente a nova administração implementará as mudanças necessárias.
Mais do que nunca, os brasileiros precisam de realismo e transparência. Se a preocupação da equipe econômica é fazer com que o país volte a crescer rapidamente, para gerar emprego e renda aos seus cidadãos, a disputa política tem que ser deixada em segundo plano. Não se trata mais de uma competição entre ideias diferentes de governar. Trata-se, isto sim, de resgatar a confiança das pessoas no país. Não se pode fechar os olhos para os números que dimensionam a crise, mas o que interessa mesmo é saber o que todos temos de fazer para o Brasil sair dela o quanto antes.