Merece reconhecimento, pelo simbolismo do gesto político, a presença da presidente da República na reabertura dos trabalhos do Congresso. A mensagem levada ontem pela senhora Dilma Rousseff ao parlamento indica, também por parte de seu conteúdo, que o governo pode, finalmente, estar tentando se livrar do imobilismo e buscando uma reaproximação com deputados e senadores que, mesmo integrantes da base aliada, vinham se distanciando do Executivo. Foi a segunda vez que a presidente decidiu ir pessoalmente ao Congresso para apresentar as prioridades do ano, numa atitude rara do chefe do Executivo e que assume maior relevância no conturbado cenário político nacional.
Apesar da insistência com a recriação da CMPF, o ponto destoante do discurso, o gesto de boa vontade, cujo acolhimento dependerá agora dos humores dos partidos e dos parlamentares, apresentou um conjunto de iniciativas que atendem algumas expectativas da sociedade. As principais são a proposta de criação de um mecanismo de controle dos gastos público, com a fixação de um teto de despesas, e a sempre prometida reforma da Previdência. O governo deve encaminhar ao Congresso ainda no primeiro semestre um esboço de mudanças que terão efeitos somente no médio e longo prazos nessa área, mas que serão decisivas para salvar um sistema ameaçado de falência.
Disse a presidente que o Executivo passa a buscar não só a resolução imediata de problemas fiscais, mas a sustentabilidade do equilíbrio entre receitas e despesas. Resta esperar que tal declaração se traduza em ações concretas, se contarem com o apoio do Congresso. É a partir de agora que as boas intenções da presidente passam a ser testadas também politicamente, no imprevisível cenário do debate sobre o impeachment e dos desdobramentos da Operação Lava-Jato. O país precisa sair da estagnação e ninguém tem dúvida de que a distensão política, sem prejuízo das investigações sobre corrupção, é um passo indispensável para a retomada do crescimento e da confiança de quem produz.