Dane-se o risco de ser visto como romântico ou, o que é mais grave para um jornalista, ingênuo. Até porque seria ótimo um mundo com mais romantismo e ingenuidade em detrimento da praticidade fria e do cinismo. Pois bem, vamos ao ponto: dias depois da reeleição de Dilma Rousseff, eu conversava sobre a paixão comum pelo Grêmio com um amigo que por acaso fora ministro do Lula e é filiado ao PT. Havia passado toda aquela desgastante campanha eleitoral de 2014, em que se consolidaram os tristes epítetos "coxinha" e "petralha" e em que o país se afundara num abismo medonho a separar por vezes até famílias. Perguntei ao meu amigo, em meio àquela conversa de quem acredita na paixão do futebol e sustenta ser ela, queira ou não, o "produto" que sustenta o "negócio":
- Não seria o caso de Dilma demonstrar grandeza e convidar o José Serra para ser ministro da Saúde? Eles têm mais pontos convergentes do que divergentes, e isso desarmaria um pouco o país. As pessoas estão se odiando!
- Seria ótimo - ele concordou. - Só que nem o PT faria isso, nem o PSDB aceitaria.
Agora, neste momento de recesso que o fim de ano e o STF nos permitiram viver, redobro a sugestão: não seria o caso de Dilma, aproveitando-se da oportuna decisão judicial que a favoreceu, fazer um brinde de espumante e, talvez embriagada e tomada pelos bons sentimentos, apostando numa vida sem ranços, admitindo que remédios variam conforme os males, não seria o caso de Dilma pegar o telefone e, com duas simples chamadas interurbanas, convidar Serra para a Saúde e a desafeta Marina Silva para o Meio Ambiente?
Sei que minha caixa de e-mails e mais ainda minhas contas em redes sociais serão invadidas por coxinhas e petralhas me xingando de idiota. Penso nessa palavra, agressiva como outras que têm sido vomitadas por aí. O vocábulo "idiota", com o tempo, ganhou interpretação depreciativa. É o mesmo que "tolo". E recorro à arte. Paul McCartney diz: "(...) O tolo na colina/ Vê o sol nascer e se pôr/ E os olhos em sua cabeça/ Veem o mundo girando ao redor". O tal tolo do Paul é "homem de mil vozes/ falando perfeitamente alto/ Mas ninguém nunca o ouve". Dostoievski escreveu O Idiota: homem bom e humanista que, tomado de compaixão, é malvisto pelos outros. Sejamos tolos a mirar a triste planície de cima da colina, lendo um bom livro e ouvindo Beatles. Juntemo-nos e tenhamos um feliz ano novo!
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