O Natal está aí e é tempo de paz, amor e otimismo. Os apelos a comprar e comprar, porém, nos distanciam do espírito da data e nem percebemos os presentes recebidos. Míopes, nada vemos em profundidade e nos transformamos em rabugentos e queixosos pessimistas.
Sim, pois este Natal supera todos os anteriores como festa de luz. Pela primeira vez no Brasil recebemos presentes concretos (e antecipados) que nos levam à mensagem daquele menino nascido a 25 de dezembro.
Haverá presente maior do que conhecer a verdade sobre a sociedade, a política e a vida?
Só a verdade conduz ao amor e à paz. Não há convivência ou solidariedade quando o engano nos guia. Se a mentira oculta a realidade, estaremos subjugados pela insensatez dos "grandes" empoleirados no poder público ou no setor privado, que nos governam e ditam regras.
**
O ano de 2015 já se iniciou luminoso. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e sua equipe, junto à Polícia Federal e ao juiz Sérgio Moro, deram continuidade à visão que apurou e julgou o "mensalão". E a investigação do assalto à Petrobras revelou a trama sinistra que, há décadas, corrói o país. Grandes empresários, banqueiros, deputados e senadores, ministros e ex-ministros, junto a "doleiros", "lobistas" e chefetes da companhia petroleira criaram um sistema de corrupção organizada que vem sendo desmantelado a cada dia.
Quem imaginou que esses intocáveis do poder, donos absolutos da impunidade, algum dia seriam presos e condenados pela Justiça?
Quem imaginou que, com eles, viria à tona a extensa rede marginal do alto crime organizado? E que conheceríamos estranhas "profissões" com rendimentos milionários e influência além fronteiras? E que esses "doleiros", "lobistas" e "operadores partidários" detinham o poder de transformar a economia, as finanças e a política em promíscuo conglomerado do delito legalizado? E que serviam, até, ao presidente da Câmara dos Deputados?
**
A verdade sobre a sordidez escancarada do suborno e da corrupção se sobrepõe às teorias sociológicas e históricas sobre as doutrinas políticas ou sobre nossa democracia representativa. E soubemos a verdade sobre os diferentes partidos, ou, pelo menos, sobre os de maior eleitorado.
Os diferentes são iguais entre si. Já não há esquerda ou direita. A mesquinhez interesseira reina como imperatriz absolutista. O PT e o PMDB (que repartem a área federal em teórica coligação de esquerda moderada) entregaram ao PP de Paulo Maluf (partido herdeiro da ditadura direitista) o comando do assalto à Petrobras. Deixaram o delito "legalizado" em mãos aptas, com longa tradição de impunidade...
**
O recenseamento do assalto é revelador. O direitista PP tem, pelo menos, 31 políticos denunciados à Justiça, entre eles ex-ministros. O PMDB tem 17 denunciados, capitaneados por Eduardo Cunha e Renan Calheiros, presidentes da Câmara Federal e do Senado, junto a ex-ministros e ex-governadores. Logo, vem o PT, com 13 de seus membros, guiados pelo ex-ministro Antônio Palocci. De cima do muro (na condição de testemunha da súbita riqueza do próprio filho), o ex-presidente Lula da Silva observa tudo.
A lista se completa com pequenos partidos da oposição, como o Solidariedade, que agita as ruas a favor do impedimento da presidente Dilma Roussef e em furiosa defesa de Eduardo Cunha.
Também o grande opositor, o PSDB, surge à porta do inferno. O ex-governador de Minas Gerais, Eduardo Azevedo, foi condenado a 20 anos pelo "mensalão tucano", junto a Marcos Valério, que guiou o "mensalão do PT. Mas o cerco vai além: a partir de 1997, no governo Fernando Henrique, a empresa holandesa SBM pagou, pelo menos, 42 milhões de dólares em subornos à cúpula da Petrobras em contratos de fretamento de navios-plataforma.
**
Por trás de tudo, grandes empresas e até bancos. Quem se salva?
Salva-se a verdade. Não importa sequer a desfaçatez absoluta do grande ator Eduardo Cunha ao posar de inocente. Nem importa o esdrúxulo pedido de "impeachment" e as barganhas que gera no Parlamento.
A verdade é o presente de Natal!