O afastamento temporário do deputado estadual Mário Jardel (PSD) das funções parlamentares, a partir da operação do Ministério Público batizada sintomaticamente de Gol Contra, reflete acima de tudo a insensatez de políticos que patrocinaram sua campanha e de eleitores que chancelaram seu nome nas urnas. Por isso, a extensa lista de indícios de crimes sob investigação relacionados ao parlamentar em seu curto período de legislatura, incluindo organização criminosa, precisa no mínimo servir de reflexão para partidos habituados a inflar legendas com base em "celebridades". Vale o mesmo para eleitores habituados a votar por simpatia ou mesmo por motivações que imaginam ser de protesto, quando decidem optar por figuras folclóricas.
O resultado é o que se constata agora: pela segunda vez neste ano, a Assembleia perde parlamentares que confundem a atribuição a eles delegada de representar os interesses do bem comum com licença para auferir ganhos pessoais sem qualquer escrúpulo, incluindo um percentual sobre os vencimentos de seus servidores. No caso do deputado do PSD, o gol contra tem que ser compartilhado. Desde a campanha eleitoral, ficou evidente que o ex-futebolista precisava de tratamento especializado, não do mandato para o qual foi eleito com expressiva votação, mesmo evidenciando total despreparo para exercê-lo.
Graças a essa sucessão de equívocos, a Assembleia e a política do Estado passam por um constrangimento do qual poderiam ter sido poupadas. O fato de esse ser mais um episódio envolvendo uso de verbas oficiais em benefício próprio - o primeiro levou o ex-deputado Diógenes Basegio à renúncia para evitar a cassação - impõe a necessidade de uma investigação interna no Legislativo. É preciso evitar que novas ocorrências desse tipo contribuam para desgastar ainda mais a imagem da política gaúcha.
Leia mais textos de opinião