A Editoria de Opinião de Zero Hora selecionou cinco grandes temas do ano para análise editorial, levando em conta o impacto no país e no Estado. A série retrospectiva inclui outras visões, em vídeos de editores, colunistas e repórteres do jornal, e uma projeção para 2016.
A definição de 2015 como um ano desperdiçado é correta, mas incompleta. O ano da recessão e da volta da inflação e do desemprego projeta sobre 2016 os efeitos de uma combinação desastrosa, depois de carregar as muitas falhas do ano anterior. Constata-se então que o Brasil terá não um, mas pelos menos três anos perdidos, considerando-se que o período de não crescimento, agora agravado com retrocesso na produção, começou em 2013.
Acumula-se nesse tempo uma série de desacertos que o país considerava afastados pelos avanços da ciência econômica e pelo compromisso de setores da atividade pública com os interesses maiores da população. Foi assim que ocorreu o que parecia inimaginável. O país retroagiu aos tempos das grandes ameaças do final do século 20, depois de obter crescimentos de até 7,5% ao ano, como ocorreu em 2010, e de reduzir a inflação a patamares abaixo de 6%, como vinha registrando há quase uma década, até 2013.
Perderam-se não só o que os especialistas definem como fundamentos básicos da economia. Perdeu-se o bom senso no setor público, com as despesas abusivas, o descontrole fiscal, o aumento de preços de produtos básicos e a insistência com a política sustentada apenas pelo fortalecimento do mercado interno. Perderam-se produção, emprego, renda, muitas vezes em decorrência de intervenções desastradas do governo em tarifas administradas, como combustíveis e energia, com efeitos em toda a cadeia produtiva e na vida cotidiana das pessoas.
Consumiram-se junto conquistas sociais corroídas pela instabilidade e, o que é pior, pela falta de confiança. Esta pode ter sido, considerando-se as percepções internas e também as reações internacionais, a maior perda dos últimos anos: o Brasil desfez-se, em meio a tantas falhas, da capacidade de transmitir segurança e estabilidade.
São desencontros que, em muitos casos, o governo pode compartilhar com um Congresso alheio a esforços pontuais para a recuperação das contas públicas e omisso diante da necessidade de fazer reformas estruturais, cassar privilégios e ajudar a reorientar a economia para o crescimento.
Apesar das tentativas de salvar o que restava de credibilidade, com a escolha de um ministro da Fazenda que acabou se demitindo sem executar minimamente o que havia planejado, o saldo é desastroso. O ano se encerra com a ampliação dos fracassos de 2014. Agravaram-se, com a contribuição do desarranjo na política, todos os indicadores. Ampliou-se a sensação de desgoverno e, para encerrar o período, mais uma agência de avaliação de riscos decidiu alertar que o Brasil pode, sim, ficar pior do que está.
Reverter esse cenário, agora com um novo comandante na Fazenda, significa contar com fatores atualmente improváveis, como o fortalecimento de um governo e de um Congresso desacreditados. Mas os erros serão maiores se for desprezado o acervo de lições que a crise deixa para todos. Tirar proveito dos ensinamentos é um compromisso das instituições e da sociedade, com mais vigilância, mais participação e cobrança. Os brasileiros merecem voltar a desfrutar de conquistas obtidas depois de décadas de sacrifícios que as novas gerações não conheceram. Que pelo menos a partir de 2017 a economia seja capaz de nos oferecer as respostas que poucos esperam para 2016.
Colunista comenta a crise econômica
Sábado (26/12) - O Brasil lavado a jato
Segunda (28/12) - A lama que manchou o país
Terça (29/12) - O Rio Grande inadimplente
Quarta (30/12) - O aviltamento da política
Quinta/Sexta (31/12/1º/01) - Os desafios de 2016