A evolução da crise política vem ampliando um dos maiores prejuízos dos desacertos entre governo e oposição e suas consequências na economia e na sociedade. É cada vez mais presente, em todos os setores, a sensação de que a atividade pública não só perde prestígio como chegou ao perigoso estágio da desqualificação. É o resultado de uma realidade que mostra líderes confusos, indecisos ou incoerentes, como os que não souberam gerir o processo de escolha dos integrantes da comissão que analisa o impeachment na Câmara. O que o país assistiu, na sessão de quarta-feira, foi à total incapacidade das lideranças formais de articular a indicação de nomes, diante da rebeldia dos liderados.
O espetáculo da desobediência foi apenas mais um exemplo de que a política brasileira tornou-se cada vez mais imprevisível. Governistas e oposicionistas não conseguem transmitir confiança aos eleitores, no sentido de agir com coerência, com obediência a compromissos programáticos e de acordo com os interesses maiores do país. Consolida-se o desencanto com ocupantes de cargos legislativos e executivos, a partir da constatação de que a representação, nos parlamentos e nos governos, já não corresponde às mais básicas expectativas da população. É assim que os brasileiros passam a ser desafiados pela necessidade de melhorar a qualidade dos políticos que elegem.
Mas o desejo de mudanças, que não pode ser transferido, depende da vigilância e da busca de informações, da avaliação rigorosa de condutas e, por fim, da livre deliberação do voto. É o eleitor, a partir de mudança na própria postura, muitas vezes de espectador das atividades do governo e do Congresso, que tem o direito e o dever de promover o aperfeiçoamento do sistema de representação. As circunstâncias desanimadoras não podem, nunca, conduzir à armadilha dos que pretendem, em decorrência da depreciação da política, enxergar saídas fora dela. Não há alternativa sensata e civilizada fora da política, da democracia e do respeito às instituições.