Com sua realização transformada em questão de honra depois dos atentados de 13 de novembro, a Conferência do Clima (COP-21) tem início efetivo nesta segunda-feira, em Paris, cercada de expectativas. A questão central é se líderes de países de todo o mundo, às voltas com uma pauta de prioridades alterada, às vésperas do encontro, pelo terrorismo, serão capazes de enfrentar o duplo desafio: o de manter tanto a segurança quanto a preservação ambiental na agenda de debates. Por mais que chefes de Estado e de governo insistam em avanços no tema central, as dimensões inéditas do esquema montado para garantir os debates passam uma ideia oposta.
Desde a adoção da Convenção do Clima, em 1992, no Rio de Janeiro (Rio-92), o mundo vem se comprometendo com ações coordenadas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Diante do fracasso do Protocolo de Kyoto, é natural que as expectativas se voltem para um novo acordo a partir do encontro em Paris, com previsão de vigorar a partir de 2020. O Brasil vinha defendendo um acerto mais do que meramente declaratório e sustentado por uma "previsão financeira robusta". Agora, precisará despender energias tanto nesse pleito quanto para explicar descasos como o que permitiram a tragédia de Mariana.
Por mais que o tema terrorismo esteja na ordem do dia, líderes globais não podem ignorar que, diante da demora num acordo, as emissões e a degradação ambiental só aumentam. Qualquer acerto exigirá sempre a concordância de 195 países quanto à forma mais eficaz de combater o aquecimento global, o que nunca será obtido com facilidade. Ainda assim, o mundo tem razões para esperar mais do que promessas de Paris.