Apesar de todos os reveses sofridos, desde a primeira tentativa de recriação da CPMF, o governo insiste com uma ideia que não tem respaldo nem mesmo de aliados. Quando se esperava que a intenção estivesse sepultada, a presidente Dilma Rousseff decidiu intensificar as articulações pela volta do imposto, como se essa fosse a única saída para pelo menos amenizar o rombo nas contas públicas no próximo ano. É uma insistência que contraria empresários e contribuintes pessoas físicas, como mostra recente pesquisa realizada pela Federação das Indústrias de São Paulo. Das pessoas que sabem do que se trata, e lembram-se bem do período de vigência da CPMF, 86% rejeitam o retorno do tributo.
A pesquisa é uma boa resposta a dúvida levantada pelo ministro da Fazenda. Disse o senhor Joaquim Levy que o debate sobre a CPMF deveria ser disseminado entre a população, para que o contribuinte assimilasse a ideia. Pois essa é uma ideia amplamente rejeitada, porque o brasileiro não tem boas recordações do imposto que deveria ser provisório. Durante os 10 anos em que vigorou, de 1997 a 2007, a arrecadação serviu muito para tapar furos nas contas federais e pouco para resolver os problemas da saúde público, o pretexto para sua criação.
A adesão ao projeto governista tem apoio apenas de governadores e prefeitos, que ainda sonham com a possibilidade de desfrutar de parte dos ganhos com a arrecadação. É um apoio oportunista, porque a tributação, mesmo que por tempo determinado, não resolve os problemas do governo e provoca mais prejuízos do que benefícios. O argumento do Executivo, de que a CPMF é transparente e incide sobre todos, dos ricos aos pobres, não convence. Os desvios na aplicação das verbas para outras áreas, de forma sistemática e durante uma década, desmentem as declarações de quem apega-se a uma ideia vencida.
A desculpa da urgência, que sustenta a defesa da CPMF, também torna-se repetitiva, enquanto pouco ou nada é feito no sentido de melhorar a gestão pública, a partir da aproximação de despesas e receitas. A insistência com a CPMF é a prova de que sucessivos governos preferem as saídas cômodas do improviso que apenas adia soluções estruturais. Resistir à tentativa de ressuscitar o imposto é também uma tarefa do Congresso, que agiu com bom senso ao reavaliar na semana passada alguns dos projetos irresponsáveis da chamada pauta-bomba.